DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS - Ainda é preciso insistir para que haja mais mulheres na política. Por Jovanka de Genova.

Há muitos assuntos que ainda terei que trazer para este espaço, infelizmente. Isso porque alguns temas possuem tantas camadas, problemas e variações, que me vejo impedida de avançar em outros tópicos e passar batido por outros que impactam a nossa vida e se mostram tão importantes. Dito isso, volto, neste artigo, para refletir mais uma vez sobre o papel e a responsabilidade de ser mulher na nossa sociedade.

No ano passado, o Senado Federal lançou um material muito interessante, o “Guia Antimachismo – Como enfrentar agressões de gênero no ambiente profissional”, elaborado pela pesquisadora e escritora Lucelena Ferreira. Aqui vai minha sugestão de leitura, vale super a pena até para começar uma reflexão: por que esse tipo de guia ainda precisa ser produzido? A minha conclusão foi baseada em vários casos atuais que mostram que é urgente seguir debatendo esse tema em nossa sociedade porque há muito machismo, preconceitos e desvalorização das mulheres. É extremamente necessário seguir com esses debates para que sejam formados espaços de oportunidade e de aprendizado no ambiente político.

Uma parte do Guia interessantíssima diz que “a cultura política dominante acolhe, facilita e estimula a permanência e o crescimento dos homens – independentemente de ideologia –, mas repele e prejudica a participação, a colaboração e a contribuição das mulheres para o próprio país”. E, assim como nós defendemos, a Lucelena também concorda que quem perde com isso não são só as mulheres, mas todo o Brasil. Diversidade não é apenas para aqueles que querem ter seu espaço, é para todo mundo.

Para exemplificar como esse guia tem um papel educador, vamos voltar para 2021, para CPI da Covid-19, que foi instaurada para investigar omissões e irregularidades durante a pandemia. Essa investigação teve uma repercussão grandiosa na mídia brasileira e foi destrinchada de diversas maneiras. Por outro lado, foi marcada por não ter tido a participação de nenhuma senadora. Todos os partidos participantes indicaram homens como titulares e suplentes na CPI. Nenhuma mulher.

A Bancada Feminina do Senado, representada por Simone Tebet, Eliziane Gama, Leila Barros, Soraya Thronicke, Zenaide Maia, Kátia Abreu e Mara Gabrilli, acabou participando de algumas sessões como forma de “amenizar” essa falha, talvez. Mas fato é que, apesar de não comporem a mesa principal, elas conseguiram de certa forma participar e foram muito elogiadas por tratarem dos assuntos com mais profundidade e conhecimento. Elas puderam provar que estavam preparadas para os interrogatórios e investigações que foram realizadas, ao contrário de alguns senadores que estavam mais preocupados com vídeos “lacradores” direcionados para a audiência em suas redes sociais.

Agora, um assunto ainda mais atual, deste mês mesmo. No dia 16 de maio, foi aprovada a PEC da Anistia, que é basicamente um perdão para os partidos que possuem irregularidades na prestação de contas e para as legendas que descumpriram a cota mínima de recursos destinados às candidaturas de negros e mulheres nas eleições até 2022. Essa proposta só teve a possibilidade de ser votada porque a política brasileira é dominada por homens brancos. Se houvesse representatividade na política, ou seja, se mais mulheres e negros participassem em maior quantidade das grandes decisões do parlamento do Brasil esse assunto nem entraria em discussão.

Com mais mulheres e negros e menos machismo e racismo na política, é possível proteger importantes leis e compromissos que o governo brasileiro firma com esses grupos minorizados. Dessa forma, esses grupos não só se garantem no governo, como podem continuar defendendo as mulheres e negros de toda a sociedade. Com representatividade na política, é possível fazer com que leis que contribuam para um maior número de mulheres e negros na política sejam respeitadas e possam continuar em vigor. Uma forma de mantê-los lá, diversificar os políticos brasileiros e fazer com que, mais e mais, a sociedade seja mais igualitária em termos de gênero e raça.

A deputada estadual Erika Hilton deu uma declaração que sintetiza bem isso que acabamos de defender: “A PEC debocha de toda uma legislação importante para a garantia de equidade e de paridade de gênero e raça nas disputas eleitorais e nos partidos políticos. É um desrespeito com a sociedade e com a luta que travamos para conseguirmos o direito de que haja essa tentativa de equiparação”.

Para termos mais exemplos sobre como esse “machismo tóxico” afeta diretamente a vida das mulheres na política, vale lembrar os casos das deputadas Isa Penna – que foi importunada sexualmente pelo então deputado estadual Fernando Cury, em 2020, na Alesp. Ou então um caso mais atual, o da deputada Júlia Zanatta, que foi assediada pelo deputado Márcio Jerry, no Congresso Nacional, neste ano. Casos que comprovam a necessidade do Guia Antimachismo do Senado Federal não faltam, como podemos perceber.

E é ainda mais interessante pensar que, apesar das mulheres serem maioria do eleitorado, elas não são a minoria dos governantes e, quando assumem protagonismo em alguma pauta, normalmente é algo relacionado ao cuidado e pouco sobre administração, economia e temas mais “importantes”, digamos assim, e que possuem mais visibilidade. Nesses casos, as portas são fechadas às mulheres. Como se mulheres pudessem ter poder até a segunda página; dali para frente, deixa com os homens que resolvem tudo. Mas não é assim que deveria funcionar.

Se tudo isso ainda não foi o suficiente para convencer que este assunto precisa ainda ser discutido, trazemos mais um caso que mostra bem tudo isso que estamos falando. Dentro do legislativo brasileiro, que conta com 16 senadoras (19,75%) e 87 deputadas (16,95%), o PMB (Partido da Mulher Brasileira) diz em seu site oficial que o objetivo do partido é a busca pelo “reconhecimento, a consolidação e a valorização da mulher, sem a exclusão masculina no cenário de um mundo globalizado que pressupõe a igualdade dos direitos, se empenhando integralmente para garantir a soberania e o desenvolvimento do Brasil de forma pacífica e democrática, tendo como foco um país socialmente justo e igualitário”. Porém, mesmo levando a palavra “mulher”, o partido é formado basicamente por… homens. Em 2022, a legenda elegeu apenas três deputados estaduais. Todos eles homens.

Poderíamos ficar semanas ou meses trazendo casos e mais exemplos de situações machistas e desrespeitosas na política brasileira, porque são inúmeras e sucessivas situações. O que não podemos deixar – nunca – é de nos posicionar, conquistar nossos espaços e lutar para que outras mulheres possam chegar lá também. Para isso, precisamos de guias como o de Lucelena Ferreira, de representatividade como a Bancada Feminina no Senado ou então de parlamentares que denunciam e expõem abusadores. Precisamos de diversidade para que possamos lutar contra o machismo e a opressão. Precisamos, principalmente, garantir que leis que defendem a diversidade e inclusão sejam respeitadas. Esse é o caminho, mas ainda é só o começo, apesar de já fazer tanto tempo que começamos.

Imagem: Pinterest.

Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.