A falta de segurança faz as pessoas se mostrarem alguém que elas não são. Elas se escondem por medo de serem julgadas ou por não se sentirem confortáveis em serem elas mesmas em todos os ambientes em que transitam. Por isso é tão difícil se assumir LGBTQIA+ no mercado de trabalho. Uma pesquisa da consultoria Mais Diversidade, divulgada pela CNN em 2021, mostra que 54% dos entrevistados não se sentem seguros para falar sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho.
Esse número só começa a nos mostrar os problemas causados por essa situação. Os danos para a saúde mental são enormes. É uma sucessão de opressões que minam a confiança, a autoestima e a segurança das pessoas, que não se sentem acolhidas pelos que estão à sua volta. Sem contar que, para as empresas, não receber bem seus funcionários implica em queda de desempenho e produtividade deles, que não se sentem parte de uma equipe inclusiva e que está aberta às diferenças.
Outro dado sobre essa questão, apontado por uma pesquisa do DataFolha e Havaianas, em setembro de 2022, diz que 34% das pessoas LGBTQIA+ que estão no mercado de trabalho percebem que às vezes, raramente ou nunca têm acesso às mesmas oportunidades de crescimento comparados aos colegas que não fazem parte deste grupo. Diante de números tão expressivos de discriminação, é mais fácil de entender os motivos daqueles que se escondem no trabalho. Afinal, estamos falando do futuro profissional dessas pessoas.
Mas, ao contrário do que muitos pensam, não é a comunidade LGBTQIA+ que precisa se esconder. As empresas precisam reconhecê-la e respeitá-la. É preciso dar voz a essas pessoas e apoiá-las, só assim elas poderão viver na segurança de serem elas mesmas. Até porque, não estamos falando de uma população pequena, mas de mais de 9% entre aqueles com mais de 16 anos no Brasil. É importante ressaltar que, neste ano, está sendo realizado o censo do IBGE que nos trará mais informações sobre a população e com dados sobre a comunidade LGBTQIA+. Essa é uma vitória, já que foi encontrada muita resistência por parte do poder público para realizar essa atualização.
É importante compreender, em números, como é a nossa sociedade e a magnitude dos problemas que enfrentamos quando se trata das questões LGBTQIA+. Esse é o caminho para poder avaliar as medidas possíveis a serem tomadas como forma de resolver esses impasses. São pesquisas como essas citadas anteriormente que nos mostram quem nós somos. E essa é a reflexão que quero trazer agora. Para termos diretrizes que nos ajudem a agir corretamente em medidas de diversidade e inclusão, é preciso de dados corretos sobre quem somos e o que realmente precisamos quando falamos de políticas públicas corretas para as nossas reais necessidades.
A pesquisa do DataFolha e Havaianas ainda nos trouxe informações sobre qual a importância da população LGBTQIA+ para resolver problemas. Em primeiro lugar está a falta de segurança pública. Sem informação, sem dados, é muito difícil atuar nesse sentido, então, para começar a resolver esse primeiro problema, é preciso pesquisar. No entanto, fica mais complicado de conseguir essas informações se as pessoas têm medo de dizerem quem elas são.
Outra pesquisa, dessa vez pesquisa da Catho, realizada em agosto de 2022, com mais de 5.300 pessoas, afirma que 52% dos trabalhadores LGBTQIA+ relatam sofrer preconceito. Esse dado também nos ajuda a entender a dificuldade em se autodeclarar “não hetero” ou transgênero, por exemplo, já que a Lgbtfobia está presente nos mais diversos ambientes e, claro, dentro das organizações. O quinto principal problema que a comunidade mais se importa em resolver é justamente o da dificuldade de acesso ao mercado de trabalho.
Sem contar que, além do que falamos antes sobre ter funcionários mais confiantes e seguros no trabalho, uma empresa que adota medidas que tentem minimizar os problemas que a comunidade LGBTQIA+ sofre, com ações mais voltadas para diversidade e inclusão, pode ter ainda outros benefícios. Quando se trabalha com uma equipe diversa, vemos diferentes pontos de vista, um olhar mais amplo sobre diferentes problemas, em uma equipe mais humanizada e que respeita todos os colegas de trabalho. Como já falamos em artigos anteriores, valorizar a diversidade é valorizar a pluralidade de ideias e isso impacta diretamente na sociedade onde estamos inseridos, já que colaboramos para que esse tipo de atitudes e posturas possam ser propagadas e disseminadas.
Bom, já deu para perceber que tudo está interligado e não temos alternativa senão a inclusão das pessoas em todos os ambientes, seja na esfera pessoal ou profissional. É um exercício que todos teremos que fazer para derrubar nossos vieses inconscientes, preconceitos e velhos hábitos, para que assim possamos respeitar e sentirmo-nos acolhidos e livres para desempenhar nossas funções da melhor forma possível.
Mais uma vez é a diversidade nos mostrando que esse é o melhor caminho a ser seguido, até porque nós estamos cansados de ver pessoas sofrendo violências, discriminação, preconceito e intolerância por serem quem elas são.
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LGBTQIA+ é significa lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexuais e todas as demais siglas e identidades que fazem parte do movimento.
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Imagem: Freepik.
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Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.