Desejo à moda Antígona: a minha colher mexe como eu quiser... Por Renata Quiroga.

Em carnaval de mulher
Macho não mete a colher!

A piadinha que dá asco, o assédio imoral.
Vão descer ladeira abaixo,
rolar tudo pro seu penhasco.

O poema tá danado, tá com ele o recado
de rimar loucura e ética.
Vestir com força a resistência
a camisa da decência.
Fazer o mundo
de alegria, delirar.

A palavra é feminina
singular/substantiva da verdade.
Carro de som da real desigualdade:
não importa classe, cultura, nem ar intelectual,
homem é homem com seu machismo estrutural.

Dentro da barriga de uma serra, cheia de mistérios e lendas
A renda negra de Palmares
Não aceitou acordo vil
Lutou pelo nosso Brasil.
Sai do palco Seu Zumbi!
O poder, meu camarada
tá ilhado
no peito da mulherada.

Em um domingo nada santo
as mariposas republicanas,
mesmo ao chão atiradas
sangraram pelo horror do estado de exceção.
Sai do palco Seu Tavárez!
O poder, meu camarada
tá ilhado
no peito da mulherada.

Com a asa ferida, o anjo estampado de dor
À sua moda colorida, arrancou com a própria vida
A memória de seu filho
da gaiola do torturador.
Sai do palco Seu opressor,
que bate, xinga e mata só por amor!

Dandara, Las Mirabal e Zuzu na arena dessa vida
Fazem o coro desejante
que seja a ética imperante.
Cantam com Antígona para seu irmão homenagear:

Cala boca Seu Creonte!
Já que fui emparedada, conheço bem a tijolada.
Enterro vivo seu autoritarismo.
Sua falta de postura, sua guerra fria e dura.
Seu reino não tá com nada!
o poder, meu camarada
tá ilhado
no peito da mulherada.

Quer melhor neologia?
Poesia sambada/Samba versado?
que junta toda a fratria
como forma de honraria
exuma o poeta e a poesia!

Em carnaval de mulher
Macho não mete a colher!

Renata Quiroga é psicanalista e escritora.