Consumo de Vingança: o que é e como ele pode ajudar ou não na economia. Por Kelly Helena.

Durante essa quarentena, quantas vezes você disse a você mesmo ou a alguém: ‘Quando tudo isso acabar eu vou…’?

E sabe por que isso acontece?

Porque sempre achamos que merecemos uma recompensa quando nos esforçamos para algo, neste acaso, passar por uma pandemia sem precedentes e, por enquanto, sem data para acabar.

A essa reação natural do ser humano, dá-se o nome de ‘consumo de vingança’. E ela não é uma novidade dos novos tempos. Tal comportamento foi notado nos anos 1980, coincidentemente na China, quando, durante a revolução cultural, percebeu-se uma grande procura por produtos estrangeiros.

Agora, o assunto voltou à tona durante o isolamento social mundial por conta da Covid-19.

Vários especialistas no assunto, de economistas a marqueteiros, vêm especulando a ação, principalmente depois que algumas lojas retomaram suas atividades na China e houve uma grande onda de consumo. O caso mais expressivo aconteceu em abril na loja Hermès, que fica em Guangzhou, sul da China, e que faturou o equivalente a R$ 14 milhões no dia de sua reabertura.

O mesmo também foi visto na França, com a abertura de lojas de luxo como Zara e Louis Vuitton.

E, aqui no Brasil, as coisas não parecem ser tão diferentes do que acontece no país asiático e no europeu. Isso porque, antes mesmo de começarem a liberar a abertura de alguns setores comerciais no país, o consumo de produtos não essenciais cresceu absurdamente, o que já dava indícios de que as pessoas ‘se recompensam pelo período que estão passando’.

Uma pesquisa feita pela Consultoria E-bit, na semana entre os dias 19 e 25 de março, mostrou que logo no início na quarentena, a corrida por produtos essenciais fez disparar os números do e-commerce nacional e também percebeu-se novos itens entrando nessa corrida, itens esses que não fazem parte da categoria de produtos essenciais, tais como artigos para casa e móveis – que subiu 93% -, sendo mais comprados itens para cozinha, decoração, ar-condicionado e móveis.

Outro setor que teve uma alta expressiva foi o de brinquedos, com demanda sete vezes maior do que a normal segundo dados da Konduto, acompanhado de artigos esportivos – que teve uma alta de 187%.

Flexibilização do comércio, economia e consumo de vingança

Desde que foi anunciada a flexibilização gradual do comércio pelo governo de São Paulo, o Ibovespa teve uma alta devido a setores de varejo e bens de consumo que subiram durante o anúncio, tais como Submarino (+16%), Via Varejo (+12%), Pão de Açúcar (+11%), Marfrig e Lojas Americanas (+8%), Localiza (+8%), Hering (+8%), Lojas Renner (+7) e Hyper Marcas (+7%).

O que também se vê são milhares de notícias falando a respeito da movimentação nos comércios de cidades onde começou a flexibilização, sendo em alguns locais comparada a uma ‘véspera de natal’, devido ao grande número de pessoas realizando compras em loja físicas após a abertura.

Ainda não se tem um número oficial sobre essas compras nem como elas estão impactando a economia, mas o que se pode ver, até o momento, é que a prática do consumo de vingança vem dando sinais bem expressivos por aqui.

Por hora, é preciso haver um senso de responsabilidade e organização por parte dos lojistas, uma vez que o número de casos de coronavírus subiu consideravelmente nas cidades em que houve a reabertura do comércio, e isso pode causar novamente o fechamento das lojas caso não diminua o número de infectados.

Outro ponto a ser levantando quando se fala em consumo de vingança, é entender que ele acontece por um curto período, fazendo com que novas estratégias devam ser adotadas para o período a seguir.

As empresas, desde grandes a pequenas, precisam estar preparadas para um novo modo de consumo e retomada da economia.

Aos poucos, vamos sentindo como serão os próximos passos e nos preparando para essa retomada que definirá quem vai conseguir passar por esse período com estudo, planejamento e estratégia, e quem ficará para trás.

Imagem: Freepik.

Kelly Helena é formada em Jornalismo pela Unitau, tendo trabalho em jornais impressos, TV, revista, assessoria de imprensa e – há mais de cinco anos – no Marketing Digital, sendo especialista em conteúdos inbound.