Comunicar ou fazer parte: em busca de lugar de fala, entendimento, credibilidade e conversão. Por Liana Merladete.

Saudosa, me peguei pensando nas primeiras aulas da Faculdade. O ano era 2002, eu era uma ingressante sonhadora e cheia de expectativas com o curso de Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Eu, dada a política da minha casa, ainda esperava o relógio marcar meia-noite para acessar a internet e, com isso, evitar gastos além do previsto para a família. O listão de aprovados não circulava em prints e, por conseguinte, nem em incontáveis posts. E, da mesma forma, nossa credibilidade não era alicerçada a partir do número de pessoas que tomavam conhecimento da nossa aprovação ou conquistas a seguir.

Por certo, insta dizer, falando nisso, que não me coloco contra as redes sociais. Revisitá-las e refletir sobre tudo e tanto que aconteceu de Friendster ao MySpace, Orkut, Facebook, Twitter, LinkedIn, YouTube, Instagram, Pinterest, WhatsApp, TikTok e muito mais, é, no mínimo, revolucionário. Como não poderia deixar de ser, como profissional da comunicação, tenho dimensão do quanto as redes sociais são plataformas importantes para a comunicação e interação entre as pessoas. Assim, só rapidamente, poderia enaltecer algumas vantagens como a possibilidade das pessoas compartilharem seus pensamentos, interesses, notícias e outras informações com um grande número de pessoas em todo o mundo. É gigantesco o número de pessoas e organizações que contam com elas, sabemos, para promover negócios, produtos e serviços. Todos querem, de alguma forma, visibilidade, relacionamento e conversão, afinal de contas o lucro continua sendo vital e também se almeja, invariavelmente, admiração.

O que me angustia, em meio a tudo e tanto, é o mais do mesmo. A linha, para muitos, entre existir nesses contextos, fazer parte e realmente fazer a diferença, parece tênue. Me pergunto se só eu tenho a impressão de que todos estão fazendo a mesma coisa. Me questiono se estão, de fato, valorizando a audiência. Recentemente, estive em um evento da área, onde alguns cases eram apresentados. Meu olhar treinado de Relações Públicas, talvez por vocação, a cada apresentação, mirava, primeiramente, no objetivo. Entre as apresentações, um aparentemente objetivo. A meta era claríssima: aumentar em x% as vendas de seguros de vida para um público aparentemente jovem e não tão consciente quanto à importância do produto. Toda a apresentação foi ancorada na modelagem de criativos e no número de visualizações angariado.

Por certo não ignoro a importância da conscientização, da democratização da informação e do significado do alcance dos dados socializados. Mas nem em um só minuto alguém questionou o cumprimento da meta. E me preocupa imensamente que estejamos nos afastando dos nossos clientes e de seu alinhamento estratégico porque, assim como eles, estamos mais do que afogados em conteúdo. Passamos todos, de alguma forma, em maior ou menor grau, a crer que um alto número de visualizações é o único indicador para avaliar o sucesso de algo. Isso é perigoso. Sabemos que a atenção virou moeda e disputarmos ela é natural. Ou melhor, consequência.

Mas o fato é que somos bombardeados por vídeos e mais vídeos sobre tantas dicas para aumentar as visualizações e crescer, que urge a necessidade de lançarmos mão da qualificação que nos diferencia dos amadores do mercado e rememorar que crescer implica muito mais do que curtir e compartilhar. Enquanto profissionais da comunicação, precisamos ir além do mero festival de cards para postagem nas redes sociais. Temos um papel fundamental na descoberta do diferencial das empresas que atendemos, no (re)conhecimento do público (para o qual a estratégia ideal pode ou não residir no digital, acredite!). Sabemos o quanto a satisfação do cliente importa, da mesma forma que alianças fazem a diferença. Temos muito claro que colaboradores motivados representam ações engajadas. Somos preparados para manter o foco e para não desperdiçar oportunidades e interpretar as tendências. E mais: para garantir um olhar preditivo.

Esses dias eu li algo que me tocou profundamente, quando, justamente, me via preocupada com a proliferação de “profissionais” sem credencial, mas atuantes nas redes, alguns impactando o mercado efetivamente profissional: a grandeza está no conhecimento que nós temos, na experiência com um segmento, nos resultados que geramos para nossos clientes. Não nos percamos. Comuniquemos e não só façamos parte. Nosso lugar de fala, entendimento, credibilidade e até conversão está no tempo que dedicamos aos nossos estudos, nas renúncias que fazemos e isso não tem a ver com preço, mas com valor.

Liana Merladete é relações-públicas, empreendedora na área de Educação & Comunicação e Entretenimento Geek. Professora universitária, MBA em Gestão de Negócios, mestre em Tecnologias Educacionais em Rede, doutoranda em Comunicação e tem formação em Empreendedorismo e Coaching de Carreira.