ANÁLISE CRÍTICA - O declínio da 'cultura da presença' no trabalho. Por Silmara Helena Pereira de Paula.

O avanço da tecnologia vem impondo, ao longo das últimas décadas, transformações irreversíveis ao mercado de trabalho, deixando obsoletos equipamentos e funções.

Quem, com idade acima de 40 anos, não presenciou a aposentadoria (precoce) de atividades laborais antes consideradas essenciais para determinado segmento econômico. Nas redações, por exemplo, foram desaparecendo os revisores; nas escolas, os operadores de mimeógrafos; no rádio, os atores e atrizes de radionovela, e até 2026 cerca de 30 milhões de empregos poderão desaparecer, de acordo com pesquisa feita pelo Laboratório de Aprendizado de Máquina Aplicado a Finanças e Organização (UnB) publicada no site Panorama Positivo (*).

O fato é que o mercado de trabalho está em profunda mudança e esse fenômeno é inevitável.

No entanto, parece ter sido a pandemia da Covid-19 que sacramentou a necessidade de uma reavaliação dos sistemas e da gestão do trabalho.

Vejamos: a pandemia rompeu a lógica da presença física dos trabalhadores nas empresas para execução do seus ofícios. A “cultura da presença” foi substituída pelo planejamento das tarefas, entrega de projetos, horários flexíveis e home office.

Óbvio que nem tudo são flores. Há desrespeito aos horários de descanso, mistura das atividades domésticas com as laborais, dificuldade de acesso a internet, falta de apoio financeiro para custear equipamentos para realização do trabalho em casa.

A realidade, porém, tem sido implacável. O home office foi até regulamentado. Depois da descoberta da possibilidade de se livrar do relógio de ponto e das horas a fio no transporte público para chegar ao “serviço” está cada vez mais difícil aceitar, sem questionamento, os motivos pelos quais ainda é preciso ir à empresa todos os dias se é possível garantir de casa a execução do trabalho.

Com a chegada das novas gerações ao mercado será praticamente impossível não haver alterações no sistema. Há uma evidente indisposição desse grupo em abrir mão da qualidade de vida para passar oito horas “preso” em uma empresa ou instituição. Para os trabalhadores da década de 1990, isso é mais um esforço que faz parte da vida, a parte chata da profissão. Mas não se iludam, boa parte está disposta a aderir às novidades dessa nova era, sem medo de ser feliz.

A questão é que o sistema de trabalho da forma como foi constituído começa a não fazer mais sentido assim como as gestões personalistas, autoritárias e sem preocupação com as pessoas.

O mais difícil é mudar a cultura organizacional pautada pelo controle do trabalhador e não pela qualidade do que produz.

Ainda bem que não faltam exemplos de gestões inteligentes do trabalho (vide Google) e muito mais dedicadas a criar um propósito para o trabalho e não tornar o trabalho algo sem propósito.

(*) Fonte:

https://www.meupositivo.com.br/panoramapositivo/profissoes-que-podem-desaparecer

Silmara Helena Pereira de Paula é jornalista formada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atua na área desde 1994 e trabalha em comunicação pública desde 2003. É pós-graduada em Docência em Ensino Superior pelo SENAC-SP (2015) e em Filosofia e Autoconhecimento: uso pessoal e profissional pela PUC-RS (2021). Atualmente é assessora de imprensa concursada na Câmara Municipal de Arujá.