Acomodando a saudade. Por Neusa Medeiros.

Nesta época do ano, a saudade acorda e reaparece com mais força. Ela fica períodos hibernando, acomodada em algum lugar dentro da gente, mas em certas datas vem com tudo, mostrando que não havia desaparecido, somente esperava o momento oportuno de reaparecer.

Algumas lembranças não sabemos se um dia serão repetidas. A saudade é o preço que se paga pelo inesquecível. Na verdade, em algum momento, o corpo seguiu em frente e o coração não teve força suficiente para avançar, então ficou para trás, meio sem destino. Isso por si só já justifica um querer voltar no tempo, reviver momentos, recapturar imagens. O motivo: acomodar velhos sentimentos e aquietar algumas saudades, dando mais significado ao que foi vivido.

Percebo que, às vezes, a saudade nem é do outro, nem tão pouco dos lugares, mas das emoções, de tudo que nos mobilizou. É um sentimento individual e solitário, mas certeiro. Não acaba quando desejamos, só se acomoda com o tempo. Um dia ela deixa de ser dor e vira história, pois algumas pessoas são eternas dentro da gente. Nem tente esquecer, apenas aceite, que não estiveram na sua vida em vão.

Tem gente que é imune a saudade, bem sei. Leva uma vida mais rasa, sem envolvimentos aparentes. É capaz de se afastar sem motivo e apagar as boas lembranças como se não tivessem existido. São pessoas vacinadas pelo desapego. Seguem e nem olham para atrás. Mas eu, como a escritora Clarice Lispector, “sinto saudades de quem não me despedi direito, das coisas que deixei passar….”. Tenho vontade de colocar algumas lembranças numa caixinha para poder abrir e reviver tudo de novo quando esse sentimento apertar.

Compactuo com o poeta Allan Dias Castro, quando escreveu o texto Memórias: “Mesmo que a vida me leve tudo, não vai levar nem metade porque eu levo em mim o que não esqueço”. O que vivemos ninguém nos tira!

Por isso, refiz alguns conceitos, reinventei alguns formatos. Vou guardar aquelas saudades que deixaram lembranças e experiências positivas. As demais vou rever, quem sabe promover a possíveis novas vivências. Afinal, se vieram até aqui comigo o significado já está definido: são inesquecíveis!

Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.