Administrar a saudade é uma tarefa difícil, mesmo sabendo que, como bem cantou Renato Russo, “cada saudade tem um por quê e um por quem”. Na realidade, ela é o preço que se paga por vivermos momentos inesquecíveis e cruzarmos com pessoas incomparáveis. É a comprovação de que realmente valeu a pena viver.
Nestes últimos tempos, tivemos que exercitar com mais propriedade este sentimento nostálgico, causado pela ausência de algo, de alguém, de um lugar ou pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados. Nos tornamos impotentes e até melancólicos diante da constatação de que “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia; tudo passa, tudo sempre passará”, como vem cantando aos quatro ventos Lulu Santos. Sabemos que “a vida vem em ondas, como um mar, num indo e vindo infinito”.
Gosto também da música de Jorge Vercillo, que diz que “a saudade bateu, foi que nem maré”. Esta força que impele as ações humanas, com avanços e recuos, fluxos e refluxos define para mim a saudade. Tantos se foram pela doença, durante a pandemia, pelas tristezas, pelo livre-arbítrio de deixar para trás. Lidar com isso é doloroso, mas inevitável. Não temos nem como tentar fugir. Pisamos em areia movediça, terreno frágil.
Ah… esse sopro chamado vida! Nem sempre estaremos no nosso melhor momento. Existirão as perdas necessárias ou inevitáveis e, por vezes, “faltarão até gavetas para guardar tanta saudade”, como afirmou a poetisa Yêda Schmaltz. A verdade é que até mesmo os fortes choram, só que muitas vezes sozinhos.
A saudade também pode ser de nós mesmo, daquilo que um dia fomos e de tudo que já vivemos. Da nossa história inacabada. Dos sonhos truncados ou desfeitos. Mesmo acreditando que nada desvia o destino, a saudade garante revisitar os bons momentos, reter e guardar os melhores episódios.
O que “você viveu ninguém rouba”, já dizia o escritor Gabriel Garcia Márquez, então, quando ocorrer um momento que impacta muito nas suas emoções mais profundas, pare por uns segundos e feche os olhos. Guarde na caixinha das memórias afetivas esta sensação e sempre que bater saudade revisite este sentimento que já aqueceu o coração.
Pense que um dia deixará de ser dor e irá se transformar em história para contar ou somente para guardar. Algumas pessoas são assim mesmo eternas, dentro da gente. São raras, preciosas, como trevo de quatro folhas. Já cruzei, nesta vida, com várias. Sorte a minha!
Que o vento sopre sempre a favor da felicidade, apesar das perdas, pois a vida segue, com ou sem as pessoas! Qual a solução? Deixe o tempo passar. Como diz o ditado, “no andar da carruagem as melancias se ajeitam”. Pare de tentar acalmar a tempestade. Acalme-se e a tempestade irá passar. A saudade sempre encontrará um lugar para se alojar. Aceite e deixe fluir!
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Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.