A era das 'lives' criada pela pandemia do novo coronavírus. Por Flávia Ferreira.

A política de isolamento social vem mudando a forma como as pessoas consomem produtos, serviços e informações, mas creio que o maior impacto foi sentido pelo setor de Cultura que, impedido de promover eventos físicos, viu nas lives uma opção de captação de clientes e arrecadação financeira para manter os negócios em tempo de pandemia.

De acordo com uma pesquisa da VIU HUB, o crescimento mensal entre janeiro e abril de uploads de lives no YouTube foi de 15,6%, e no Facebook foi de 19,3%. No Instagram a palavra live cresceu 277% em março – comparado ao mês anterior. A tendência também foi mostrada no estudo ‘Deus me lives: intoxicação na quarentena’, do podcast ‘Caos Corporativo’. Apenas 7,2% dos entrevistados não participaram de alguma live, webinar ou curso on-line oferecido nesse período.

A Diretora Geral na Viu Hub, Vanessa Oliveira, contou, em participação no  YOUPIX Talks (https://www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=RydUXzgwXaY&feature=emb_logo) de maio, que a live é um dos formatos que está possibilitando que as pessoas exerçam a necessidade básica de se expressar, de se comunicar e de se sentir pertencente a uma comunidade.

‘Na medida em que estamos isolados e impedidos de ter uma vida mais livre, estamos suprindo nossas necessidades de contato por meio desse formato. É a possibilidade de um ponto de encontro, onde se vê, celebra, e ouve os artistas e influenciadores de uma forma mais aproximada que em outros momentos não veríamos, como os shows, por exemplo, que estão sendo de graça no momento da live’.

Vanessa conta que já passou a fase de quem tem a maior audiência; o fundamental agora é o diálogo, a troca, a conversa e a interação. ‘Temos a oportunidade, através do ao vivo, de construir relevância e isso só acontece se a interação estiver acontecendo. Se você vai entregar uma live, mas não está dando voz para sua audiência, você não está explorando o que o formato tem de melhor’.

Uma ferramenta que veio para auxiliar os produtores de conteúdo também está gerando uma sensação de frustração nos usuários. Para 42,3% dos entrevistados, os conteúdos ‘são irrelevantes, repetitivos e sem profundidade’; 38% ‘não aguentam mais as lives‘ e acham que ‘as empresas só querem aproveitar o momento para se promover e caçar leads‘.

O sentimento de ansiedade também foi potencializado neste período de quarentena, como apontou um novo estudo feito pela Flixed – que indicou um aumentou em pelo menos 15 minutos por dia nas redes sociais, além do que já era habitual entre os norte-americanos. Dentre os usuários do Reddit, a pesquisa notou que 57,6% dos respondentes afirmaram que tiveram uma piora em sua saúde mental.

Limitar a quantidade de tempo de tela, especialmente relacionado ao coronavírus nas mídias sociais, também teve um impacto positivo. Flixed descobriu que 43% das pessoas que disseram estabelecer prazos para a quantidade de notícias Covid-19 que consomem, relataram um melhor estado de saúde mental. Essa atitude seria mais fácil em um contexto sem o isolamento, pois um dos problemas é que, quando as pessoas são isoladas fisicamente, existe o desejo de recorrer à tela, o que pode levar inevitavelmente a notícias e informações sobre a pandemia.

Flávia Ferreira é jornalista pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação. Com mais de 10 anos de atuação profissional, já navegou pelo terceiro setor, o setor público e o privado, sempre trazendo o viés social para o trabalho cotidiano, seja com comunicação corporativa, gestão de marcas ou reportagens de campo.