A ERA DA COMUNICAÇÃO IMEDIÁTICA - Formadores de opinião e 'fake news'. Por Juliana Müller.

Como diz o nome desta coluna, que retomo a partir de agora com textos mensais, estamos em uma era IMEdiática, onde tudo precisa ser p’ra ontem e só tem valor se é postado. Não basta ser ou fazer, é preciso mostrar. Mas, o que isso tem a ver com influencers e fake news? Tudo.

O Brasil, segundo pesquisa da Nielsen publicada em maio de 2022, possui mais de 500 mil influenciadores digitais, considerando que (no critério do levantamento) é preciso ter pelo menos 10 mil seguidores para entrar nessa conta. É muita gente falando p’ra muita gente sobre o que é bom, o que vale a pena e como fazer as coisas do melhor jeito. Fico pensando até que ponto a gente se deixa, de fato, influenciar pelos novos formadores de opinião.

Referência

Quem tem mais de 40 anos, como eu, deve lembrar-se que há tempos atrás era assim que chamávamos aqueles que eram admirados, respeitados e “seguidos” por outros tantos, por ter boa reputação e ser referência em alguma área específica. Que me desculpe a excelente comediante e apresentadora Tatá Werneck, mas desconfio quando vejo uma postagem de parceria paga com a OMO p’ra falar sobre lavar roupas… simplesmente porque não consigo imaginá-la no tanque ou separando as peças por cores p’ra colocar na máquina. Seria uma (brand) fake news para as donas de casa?

Sim, uma referência em muitas coisas, formadora de opinião e altamente engajada com várias causas, Tatá é um exemplo (do meu ponto de vista) a ser respeitado. E, se eu tivesse uma grande marca, logicamente também teria interesse em ter uma estrela como ela estampando a propaganda… mas, esse texto só tem a pretensão de refletir até que ponto a gente acredita no que é real e tangível ou na força do marketing. Analise você mesmo: é mais considerável o que sua mãe diz sobre lavar roupas ou qualquer outra pessoa que, por ser famoso, faz um post de parceria paga? Nem vou me ater ao fato de que a marca ainda paga para a pessoa falar bem do produto dela… é uma reflexão mesmo.

A mesma pesquisa diz que o nosso país tem mais influenciadores do que engenheiros civis (455 mil) e dentistas (374 mil), e o número quase equivale ao total de médicos (502 mil). Isso significa que tem mais gente querendo mostrar do que, de fato, fazer. A internet tem dica para tudo: ser fitness, ser engraçado, ser antenado, ser despachado. Também tem tendência a ser juiz, ser santo e pecador, ser bandido e ser mocinho. Estou esperando o dia em que vamos ter mais dicas de como ser… humano.

Tudo é lindo no Instagram, e mostrar o que (não) se vive se tornou uma condição para se sentir aceito por uma sociedade que julga o tempo todo e tem mais de 500 mil cabeças querendo te dizer o que e como fazer da sua vida um mar de rosas. Essa é a maior fake news que pode haver, a da nossa vida perfeita estampada na rede p’ra não parecer que somos pessoas.

Para fechar, eu só queria dizer que ninguém nunca fará uma Coca-Cola igual a Coca-Cola. E nem é preciso que me paguem por isso. É sobre ser, fazer, influenciar e se garantir, e isso não se constrói do dia p’ra noite. Mas, eu não tenho que achar nada… assim como a minha, de opiniões a rede está cheia.

Juliana Müller é relações-públicas, presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas e trabalha na área de eventos na Johnson & Johnson. É uma defensora dos eventos corporativos como ferramenta de comunicação estratégica.