Falta de acesso às redes sociais revela uma sociedade dependente delas, diz neurocientista.

A falta de acesso às redes sociais, ontem, revelou parte de uma sociedade nomofóbica, revela o neurocientista Fabiano de Abreu.

A nomofobia é um termo que descreve o medo de ficar sem contato com o celular, derivado da expressão inglesa no mobile phone phobia. Este termo não é reconhecido pela comunidade médica, mas tem sido utilizado e estudado desde 2008 para descrever o comportamento de dependência e os sentimentos de angústia e ansiedade que algumas pessoas demonstram quando não têm o celular por perto. Normalmente, a nomofobia é identificada principalmente em pré-adolescentes e adolescentes, já que são aqueles que mais consomem esse tipo de tecnologia e permanecem mais tempo nas redes sociais.

O apagão das redes sociais nesta segunda-feira revelou um caos muito além de uma questão tecnológica. O neurocientista Fabiano de Abreu, PhD. alerta para uma sociedade cada vez mais dependente dos conteúdos digitais e que corre sérios riscos à saúde física e mental.

A segunda-feira de caos nas redes sociais trouxe à tona muito mais do que a falta de acesso ao WhatsApp, Instagram e Facebook. Se por um lado as pessoas tiveram que passar horas longe de seus conteúdos digitais favoritos, por outro muitas revelaram o quanto estão dependentes dessas ferramentas, e isso pode trazer sérias consequências.

“Ontem, diferente das outras vezes, os aplicativos ficaram mais de 6 horas offline. Mediante este acontecimento, monitorei o comportamento das pessoas durante e após a volta destas redes sociais”, aponta o neurocientista, psicanalista e biólogo. “Se a pessoa pegou no celular para buscar constantemente algo para fazer ou analisar se as plataformas já haviam voltado. Se a pessoa buscou outras redes sociais, isso já serve de alerta para um possível vício. A depender do grau em que isso a afetou, revela-se o problema”, acrescenta.

Diante deste cenário, Fabiano de Abreu lembra de um passado não muito distante: “Há pouco tempo atrás não tínhamos essas redes e vivíamos. O que acontece hoje com o comodismo para que não se consiga usar outros meios e argumentos no cotidiano?”, questiona. Para saber se a pessoa está sofrendo do vício, o neurocientista cita algumas situações que aconteceram com muitos usuários durante este tempo em que os aplicativos ficaram fora do ar:

– “Ficou parado, olhando para o celular sem saber o que fazer”.

– “Entrava nos aplicativos constantemente para ver se haviam voltado”.

– “Entrou em aplicativos que não costumava usar e ficou perdido”.

– “Sentiu agonia”.

– “Alteração de humor”.

– “Vazio existencial”.

– “Ficou impaciente e/ou irritado”.

– “Teve a impressão de receber notificações”.

“Se você sentiu esses sintomas durante o dia, ontem, é bom ligar o sinal de alerta, pois são sintomas que têm relação com a nomofobia”, observa. Para piorar, existe um contexto em que essa doença se revela ainda pior para a pessoa: “Há casos em que a pessoa sente tanto essa ausência que pode apresentar náuseas, sudorese, entre outros sintomas físicos”.

O que causa a nomofobia?

Segundo o neurocientista “no cérebro, na região dos núcleos da base, trabalhando com o sistema límbico, a sensação de prazer que a liberação de dopamina promove a cada novo like ou expectativa de mensagem recebida na rede social transforma o hábito em vício, estimulando a ficar cada vez mais online buscando recompensas, aumentando a ansiedade – o que funciona como pendência para esta busca”. Além disso, “a função da dopamina é fornecer um feedback positivo, uma recompensa ao organismo, que torna-se uma busca constante. Isso é compensatório já que a ansiedade por si só tende a fazer buscar mais ou se entra em uma atmosfera ruim, pedindo mais recompensa – como num ciclo”, completa.

Foto Fabiano de Abreu: Jennifer de Paula.

Imagem de chamada: Freepik.

Fabiano de Abreu, PhD., neurocientista, mestre psicanalista, biólogo, historiador, antropólogo, com formações também em neuropsicologia, psicologia, neurolinguística, neuroplasticidade, inteligência artificial, neurociência aplicada à aprendizagem, filosofia, jornalismo e formação profissional em nutrição clínica. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, UniLogos, membro da Federação Europeia de Neurociências e da Sociedade Brasileira e Portuguesa de Neurociências.