CLIPPING COMENTADO: A polícia da informação.

Deu na revista Oeste (14/05/2021), em matéria de Augusto Nunes e Branca Nunes:

Filha da censura e irmã do controle social da mídia, a agência de checagem tenta impor o pensamento único.

LINK – https://revistaoeste.com/revista/edicao-60/a-policia-da-informacao/

COMENTÁRIO

Fato inicialmente visto como auspicioso – pela missão adotada e pelo mercado de trabalho que abriria para jornalistas –, a criação de “agências” de fact checking vem decepcionando… e muito.

Este OCI – por absoluto idealismo – buscou contato inicial com jornalistas envolvidos nas operações de criação de pelo menos duas “agências” brasileiras. A ideia era de propor parceria, tendo em vista as nossas causas. Deu em nada. O pessoal – parece – foi acometido pelo mal do terceiro milênio: a não-resposta.

As aspas usadas no termo “agência” já denotam a nossa primeira quimera frustrada. Quem agencia, agencia algo ou alguém. E esta é uma questão que sempre aparece nas salas de aulas dos cursos de Propaganda. A garotada simplesmente não sabe porque uma empresa deste ramo convencionou-se chamar “agência”. E parece que nenhum professor da área se dá ao requinte de explicar o óbvio: a agência agencia a mídia. Ou seja, agencia espaço ou tempo nos veículos de comunicação. Por isso, aliás, existem e operam os veículos comerciais. Sem anunciantes não se sobrevive no setor. (Obs.: o tal do “marketing digital” veio – ao arrepio da lei – para acabar de sepultar a boa prática com o tal do “impulsionamento”, mas este é um assunto para outro comentário).

Quando os próprios veículos adotaram projetos de checagem internos, louvou-se a iniciativa, como foi o caso de O Globo com seu “Fato ou Fake”. Aliás, checar é – ou deveria ser – verbo sagrado na imprensa. O encolhimento das Redações parece ter aberto um atalho entre a cabeça do jornalista e o texto publicado. Quase não há mais apuração, checagem e revisão. Os papéis de repórter, editor, chefe de Redação, copydesk e revisor foram “economizados” e fundidos – em detrimento do produto que chega ao público.

Follow the money

Mas, quando tais iniciativas de fact checking saíram das Redações para tornar-se empresas privadas ou coletivos sem CNPJ, o caldo entornou – junto com a nossa segunda quimera.

“Agências” reguladas por nada ou ninguém, “certificadas” por “projetos internacionais” (entes globalistas de discurso politicamente correto unificado), ou empresas disfarçadas de ONGs, avocam para si uma autoridade e uma imparcialidade que não possuem ou praticam – e nem poderia ser assim, pois precisam de quem as financie para exercer o seu trabalho.

True lies

Logo, claro, esses empreendimentos têm lado, o que inviabiliza a busca da Verdade – esta fugidia meta que até nos mais rigorosos filósofos prega peças. Bem-vindo à Era da pós-verdade… ou dos Fatos alternativos!

Lástima!

Ah… E sempre o que já é ruim pode piorar… Uma CPI do Congresso Nacional “ameaça” contratar uma dessas “agências” para checagem – “em tempo real” de depoimentos – a verdade ou não de uma fala.

Ninguém disse, mas digo eu: é absurdo completo que uma organização com interesses privados seja contratada para uma função que exigiria fé pública. Espero, sinceramente, que mais este sonho insano dos nossos políticos “profissionais” (em mentir) não se concretize no picadeiro chamado Brasília. Do contrário, a credibilidade que ainda resta a jornalistas se esvairá de vez, como a de qualquer garoto ou garota-propaganda.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).