A volta do que não deveria ter sido.
São Paulo volta à fase vermelha de restrição de convívio na pandemia.
Alega o governo estadual – que irresponsavelmente prometeu na campanha que não haveria retrocesso na abertura econômica – um aumento no número de casos e a limitação de leitos de UTIs.
Por motivos assim, diante de vítimas e da imprevidência, mira-se na doença e no doente tentando preservar este último, sob riscos enormes.
Ou seja, a bala de prata do governador João Dória, a vacina a qualquer custo – e só a vacina para superar o lockdown – parece ter se desviado do alvo ou está em velocidade menor que o planejado. É a ciência. Ela tem seu tempo, que pode ser acelerado, mas continua tendo um tempo muito acima do desejo humano de mão única.
Eu critiquei, desde o início desta loucura, o pensamento único, a alternativa única, a visão de solução europeia para os trópicos – como se fôssemos todos iguais -, o plano A sem o plano B, C, D…
A demonização politiqueira de métodos alternativos de contenção do Coronavírus – de João Dória e seus aliados na imprensa e na academia, por exemplo – com antivirais de uso conhecido e possíveis efeitos colaterais muito controláveis, foi a sandice maior.
Por quê?
Por que eliminar barreiras factíveis de contenção que podem reduzir baixas e atrasar o inimigo?
A Covid-19 implantou uma guerra que precisava – e ainda precisa! – como toda guerra, de vários planos, estratégias diversificadas e tudo o que possa reduzir o dano.
Toda ajuda é bem-vinda.
Tempo é vital. Lá e aqui. Sempre.
Não vou mais discutir as drogas como Hidroxicloroquina, Ivermectina e outras. Elas são o que meu querido amigo Luciano Pires Filho chama, para casos assim, de “derruba disjuntor”. Haverá sempre alguém que, ao ouvir o nome do remédio, mudará a cara, aumentará o tom da crítica e nem mais continuará a discussão, cedendo ao obscurantismo do radicalismo.
No entanto, mesmo vendo gente teoricamente boa negando a ciência do medicamento em nome da ciência da vacina (insano!), não vou tolher o raciocínio lógico e a lógica em si: se não sou médico para atestar a eficiência destes medicamentos (tente comprar Ivermectina na farmácia e veja que já há falta ou o preço subiu muito – demanda, meu caro!), também não sou médico para negar ou renegar os casos de eficiência no tratamento narrados com imensos detalhes por muitos médicos de vivência e competência ilibadas.
Seriam estes todos loucos?
Claro que não. Fizeram a sagrada escolha de resolver o que lhes está à frente.
Voltando ao argumento principal deste post, fato é que contar com uma única bala de prata numa guerra desta proporção é pouco inteligente.
A bala de prata, como sempre única, da sonhada e desejada vacina contra o Coronavírus, como alternativa solo ao lockdown, à restrição da vida, à imposição do confinamento, à quebradeira econômica e aos danos sociais e psicológicos às pessoas, à volta à normalidade, é um erro de estratégia imensurável, aqui e em várias partes do mundo civilizado ruim que tentamos copiar, porque estamos voltando para onde, talvez, nunca devêssemos ter estado.
A vacina poderá ser a solução. Torcemos por isso.
Mas a ciência e a logística impõem um tempo muito maior para sua eficácia e acessibilidade que qualquer pretenso Napoleão populista, que fale alemão ou português, no seu nano gigantismo, imagina ser possível.
Quem lhes escreve estas “mal traçadas linhas” (permitam-me um pouco de lirismo), é absolutamente favorável a vacinas, tomou todas e mais algumas, aplicou todas as que foram prescritas pelos médicos nos filhos, defendeu e defende vacinas, mas que sabe interpretar o texto que diz que o desenvolvimento das vacinas leva tempo, assim como a compreensão do processo, que precisa de transparência. E que também sabe fazer a conta de número de pessoas versus disponibilidade rápida de doses.
Tudo o que escrevi acima é sobre não contar apenas com a ilha do ideal, mas ter sempre um mar de alternativas possíveis à mão.
Bem, diante disso, por coerência e transparência, não poderia ter evitado este último artigo em 2020.
Estamos todos aqui torcendo pelo melhor.
Um lindo Natal aos queridos leitores deste espaço. E que 2021 nos seja de prosperidade, avanços e muita saúde!
Abraços fraternos aos amigos leitores deste local de precioso debate.
Até!
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Adalberto Piotto é jornalista e documentarista. Especializado em economia, é ancora de notícias em rádio e TV, articulista de realidade brasileira e produtor e diretor do filme ‘Orgulho de Ser Brasileiro’ e da série de webTV ‘Pensando o Brasil’.