Sofismas, desinteligência e renegacionismo.

Dada a situação falimentar, tanto financeira quanto moral, do jornalismo mainstream que se pratica no Brasil, vejo-me, daqui do meu bunker, situado numa colina de 50 anos de carteira assinada, obrigado a contrapor as seguintes imposturas presentes nos media todo santo dia: fake news, desinformação e negacionanismo. E o farei em partes a fim de não cansar o leitor.

Por ora, gostaria de deixar claro tratar-se de uma pensata solitária, absolutamente pessoal que aqui, por imensurável companheirismo de meus colegas de O.C.I., neste espaço, torno pública. Não se trata, pois, de conteúdo advindo de debates internos – como sempre fazemos -, mas de uma reflexão de quem completa, no próximo dia 2 de setembro, cinco décadas de trabalho neste triste país chamado Brasil.

Sofismas

A nefasta prática de juntar conteúdos verdadeiro e falso numa narrativa intencionalmente enganadora, falaciosa, é antiga como o surgimento da fala. Lembremo-nos dos sofistas… Nesta quadra do mundo, porém, abusa-se do termo fake news – neoestrangeirismo que, na falta de apetite de outras entidades que deveriam fazê-lo antes, teve – em 11/04/2022 – uma conceituação por nós proposta.

Sobre tal problemática, este O.C.I. já clipou e produziu “n” matérias:

– CLIPPING – Três sofismas e um funeral. Por Cláudio Frischtak.

– ARTIGO – Sobre a conversa, o rumor em política e a atividade de relações públicas: algumas considerações. Por José Henrique de Carvalho.

Desinteligência

Como demonstra este editorial d’O Estado de S. Paulo, a palavra da moda – desinformação – tem conteúdo vazio de sentido e de significado. Não é substantivo nem adjetivo. Vou mais longe: simplesmente não existe fora da retórica FLAxFLU da politicagem.

Querer torcer a tradução de misinformation (“misinformation can exist without specific malicious intent” – má informação, informação truncada, informação incompleta, informação enganosa) para “desinformação” é feio. É impossível desinformar. O possível é enganar, é ludibriar, é disfarçar, é mentir – o que a moribunda imprensa mainstream brasileira vem fazendo com maestria nos últimos anos.

O que existe – e é gravemente perigoso – é o processo de embotamento da inteligência que a mídia e a infosfera em geral hoje promove em todas as camadas da audiência.

ARTIGO – Norbert Wiener (1948) e Jaron Lanier (2018) – 70 anos em 70 minutos.

ARTIGO e CLIPPING – Por uma revolução analógica!

Os estudantes brasileiros – no ensino fundamental e no ensino médio – estão entre os de pior desempenho no mundo. E o nosso ensino superior (tenho “lugar de fala” para avaliar) idem. Andamos para trás em todos os campos – com exceção do setor agropecuário, justamente porque foi objeto de pesado investimento (a la Coreia do Sul) desde décadas atrás. Ponto.

Renegacionismo

Esta aí um outro termo onipresente que precisa de escrutínio: negacionismo. Pois bem, lá vai: negacionista é todo aquele que se opõe ao renegacionismo… de quem é brasileiro e renega sê-lo, de quem é batizado e renega sê-lo, de quem tem uma etnia e a renega, de quem renega o seu próprio sexo biológico, de quem renega o regime político no qual vive e exerce (ou não) a sua cidadania – e por aí vai. O genuíno negacionista se opõe aos que vivem de renegar.