Platão e a alegoria da caverna - parte 1. Por Sorayah Câmara.

Platão, filósofo grego, viveu provavelmente entre 427 a.C. e 347 a.C., era ateniense de família nobre, seu verdadeiro nome era Arístocles e ele foi o principal discípulo de Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.), filósofo grego.

O nome Platão se deve à sua forma física. Platão era um homem que tinha costas largas, ou seja, tinha um físico avantajado.

Fundou a Academia, sua escola filosófica.

Platão é considerado por muitos o maior filósofo de todos os tempos devido à importância de sua obra até os dias de hoje.

Platão inicia com Sócrates uma nova forma de pensar, de fazer filosofia.

Sócrates foi o precursor. Contudo, Sócrates nada escreveu. Tudo o que chegou até nós sobre Sócrates foi, basicamente, escrito pelo seu principal discípulo, Platão.

Então, daí a importância do pensamento platônico para toda a filosofia e para todo o desenvolvimento do pensamento filosófico e o próprio pensamento humano efetivamente.

O período filosófico grego clássico é dividido entre pré-socráticos e pós-socráticos.

Platão tem uma obra vastíssima. Livros excepcionais; todos merecem ser lidos com atenção porque muito se aprendeu e continua se aprendendo até hoje com o pensamento platônico.

Talvez exista uma obra que possa condensar o pensamento platônico e essa obra é “A República”.

“A República” é um livro complexo diferente de outras obras platônicas, ou seja, não foi escrito do início ao fim por Platão no mesmo período.

“A República” corresponde a um somatório de livros que hoje poderiam ser pensados como capítulos os quais Platão escreveu durante boa parte de sua vida.

Daí a dificuldade de se interpretar Platão e, principalmente, “A República”, onde o autor narra uma estória denominada “Alegoria da Caverna”.

A morte de Sócrates interferiu profundamente na própria forma de Platão ver o mundo. Depois da morte de Sócrates, Platão funda a sua Academia, espécie de escola filosófica que não ficava dentro de um prédio ou de uma casa, mas estava, basicamente, debaixo das árvores onde Platão filosofava com os seus discípulos.

Para poder entender a “Alegoria da Caverna” de Platão é necessário compreender o dualismo platônico.

O mundo de Platão pode ser dividido em duas categorias: mundo das ideias e mundo sensível. Platão divide o mundo em físico e metafísico.

O mundo físico – ou plano físico – seria aquele em que estamos inseridos. É o mundo do instinto, da imperfeição, da mutabilidade da forma, e principalmente, da doxa, espécie de opinião. Enfim, a falta de certeza é o plano físico no qual todos estamos.

A grande busca de Platão é a verdade, a qual se encontra num outro plano denominado de plano metafísico, ou seja, fora do mundo físico. Chamado, também, de mundo das ideias (Topos Uranus).

Esse mundo das ideias platônico é o mundo da racionalidade, da perfeição, da essência, da imutabilidade.

O plano físico é o mundo dos sentidos, das aparências, da doxa; e o mundo das ideias, o plano metafísico, é o mundo da episteme (conhecimento verdadeiro), ou seja, da certeza.

A única forma que temos para sair do plano físico, do mundo dos sentidos para o mundo das ideias, para o plano metafísico, é por meio da filosofia – para alcançar as verdades, para encontrar a certeza. Portanto, precisamos da razão e da filosofia para nos livrarmos desse mundo da ignorância em que nos encontramos e para ascendermos ao mundo perfeito, ao mundo das ideias, ao mundo metafísico.

A “Alegoria da Caverna” de Platão vai retratar questões muito interessantes.

Primeiramente, Platão vai fazer uma analogia que será muito utilizada em toda a história da humanidade. É a analogia entre luz e trevas, conhecimento e ignorância.

A ignorância como sinônimo de trevas, e a luz como sinônimo de esclarecimento da verdade, da certeza e do conhecimento.

A “Alegoria da Caverna” é uma verdadeira metáfora na qual Platão narra uma estória de homens que são prisioneiros dentro de uma caverna. Lá, eles têm uma fogueira.

Tudo, absolutamente tudo o que eles enxergam naquela caverna são as imagens das sombras projetadas dentro da caverna.

Eles não conseguem ver a luz do dia, o conhecimento. Estão presos, até que um homem resolve sair da caverna. Ele é impulsionado a sair de lá para buscar o conhecimento e a verdade.

Vai acontecer com ele o mesmo que acontece quando saímos de um local muito escuro para um local com luminosidade muito intensa, ou seja, os nossos olhos sentem esse efeito, os nossos olhos se ressentem dessa claridade muito forte.

(Platão reconhece a nossa dificuldade enquanto seres humanos para sair da zona de conforto, isto é, a dificuldade de reconhecer que estamos errados. São características do ser humano a presunção e a arrogância, e isto é demonstrado por Platão).

Um dos homens sai da caverna e tem um choque com aquela luminosidade. Ele fecha os olhos e, depois, quando começa a se acostumar com a claridade, enxerga um mundo completamente diferente daquele que ele estava enxergando até então.

Ele vê o mundo da verdade, o mundo metafísico, as coisas mesmas (não mais as representações projetadas na sombra), portanto. Ele fica absolutamente extasiado, encantado com esse novo mundo que está observando.

Enfim, ele deixa para trás todo aquele conhecimento que tinha a priori, ou seja, um conhecimento equivocado, já que encontrou a verdade.

(O verdadeiro filósofo é aquele que, ao encontrar a verdade, não se contém em guardar essa verdade somente para ele).

Na alegoria, o homem volta para a caverna e conta aos demais a verdade que ele descobriu.

O homem que vivia nas sombras da ignorância consegue se livrar dos grilhões que o aprisionavam, sai da caverna e, após um desconforto inicial, fica maravilhado com a verdade, percebendo que vivia no erro. Portanto, ao sair da caverna, o homem sai do mundo da ignorância e entra no mundo da verdade, da episteme, e isso é muito importante para Platão. O verdadeiro filósofo volta para a caverna para mostrar aos demais a verdade recém-descoberta por ele.

Contudo, os outros que vivem na ignorância da caverna matam o homem (o filósofo), pois não aceitam o fato de que eles próprios vivem na mentira, na doxa. Cada um tinha uma opinião diferente sobre as coisas que viam projetadas no fundo da caverna com a luz da fogueira.

Podemos relacionar o final da estória da “Alegoria da Caverna” com a condenação de Sócrates.

Sócrates foi condenado à morte, a beber cicuta, pois ele angariou um número grande de inimigos ao fazer com que eles percebessem que estavam errados, muitas vezes, de forma sarcástica e irônica.

Para Platão, esses inimigos de Sócrates eram os homens que estavam na caverna. E, portanto, os homens que condenaram Sócrates à morte, os atenienses que compunham o tribunal, seriam como os homens aprisionados na caverna – que não conseguiam enxergar a verdade que Sócrates mostrava ou tentava mostrar.

Para Platão, ter presenciado a morte de Sócrates foi muito difícil. A acusação pela qual ele foi condenado, basicamente, era um somatório de mentiras.

Todo aquele que busca ensinar e mostrar a verdade incomoda porque muitos preferem viver na ilusão.

Enfim, o verdadeiro filósofo é aquele que busca a verdade, mesmo que essa verdade possa incomodar muitas pessoas.

Sorayah Câmara é escritora, advogada e comunicóloga.