Os Big reizinhos Techs. Por Adalberto Piotto.

A Austrália está incomodada com o Google surfando no mar de notícias geradas pelas suas empresas jornalistas sem pagar nada a elas. Num curioso ataque libertário se esperneando por não querer participar do capitalismo que lhe dá vida, o Google fez uma ameaça: se a lei australiana que cobra pelo serviço for aprovada, vai desativar o serviço de buscas no país.

A França e a Espanha já fizeram a mesma reclamação, foram ameaçadas e o Google fez menos do que ameaçou fazer.

No linguajar dos vendedores, fez “conta de chegada para baixo”, para não perder o cliente. Rosnou mas não mordeu. E abanou o rabo.
Eu recomendo que você leia a reportagem do Tecnoblog a respeito.

É uma bem acabada história da luta entre capital e poder, nos moldes do século 21.

Empresas não são governos. Governos e políticos erram, acertam, mas são julgados a cada quatro anos no tribunal democrático das eleições.

Eles têm o que se chama de fé pública.

E os cidadãos têm meios institucionais assegurados para demonstrar sua fé ou descontinuidade de sua confiança neles.

Quem pode fazer algo parecido com um executivo bilionário de uma gigante como o Google?

As Big Techs parecem estar extasiadas com o crescimento gigantesco de seu poder de influência em tão pouco tempo. O poder é realmente sedutor, sabemos. Descontrolado, pode se tornar em despotismo, autoritarismo e por aí vai.

Na redoma de suas salas tecnológicas, com sua informalidade a casualidade no jeito de se vestir – antes espontânea, hoje, ao que parece, milimetricamente calculada por um designer de Hollywood para vender a ficção da semelhança com as novas gerações – os executivos dessas empresas querem regular o mundo de acordo com o interesse de suas empresas descoladas que não são nada além do mais puro interesse privado com ações na NASDAQ. Legítimo como negócio e como empreendimento – se não forem avante com a pretensão de serem governo sem serem eleitos.

Recentemente, essas empresas já se deram o poder de tribunais internacionais ao encerrarem contas e expulsarem de suas plataformas usuários sem o pleno direito à defesa, que nos faz civilizados.

A plebe pretensamente politizada, que teve comportamento de romanos aplaudindo cristãos serem jogados aos leões – porque lhes atendia no quesito circo -, não percebeu que aplaudia um ato longe de qualquer respeito ao devido processo legal.

Ouso dizer, numa aposta, que é um caminho perigoso para os negócios, e, com absoluta convicção, afirmo que isso tudo é muito preocupante para as liberdades individuais, as que estamos acostumados, e que governos não podem nos tirar sem um longo processo de discussão. Por que, então, estamos dando esse poder a executivos de empresas?

A democracia não lhes dá esse direito.

As Big Techs do Vale do Silício estão indo longe demais.

O pior para elas é que tem muita gente percebendo isso. Lá e aqui.

P. S.: Não existe regime perfeito. Para nada. Tudo requer o uso de nosso sagrado livre-arbítrio. Digo isso como alguém que tem muita simpatia pelo liberalismo econômico, admira o que o Vale do Silício tem feito, gosta do Google, mas não aceita dogmas econômicos e defende, sobretudo, as liberdades. Saúde!

Adalberto Piotto é jornalista e documentarista. Especializado em economia, é ancora de notícias em rádio e TV, articulista de realidade brasileira e produtor e diretor do filme ‘Orgulho de Ser Brasileiro’ e da série de webTV ‘Pensando o Brasil’.