O universo do fotojornalismo ainda tem um perfil masculino. Por Priscila Dourado.

Quando o resultado do World Press Photo 2019 saiu, em 12/04 último, a única constante era que o reconhecimento das fotógrafas ainda era pouco. Não só porque essa realidade, é de longe, o reflexo de um cenário geral, como também pelo fato de que os dados mostram que não se trata de falta, mas da forma de repartir as oportunidades.

Quantas vezes ouvimos histórias de fotógrafos sem saber, ao menos, da trajetória de uma fotógrafa? Quantas vezes você se perguntou: – Quem é a fotógrafa que te inspira?

Composição do mercado da fotografia

O mercado da fotografia ainda tem um perfil masculino. Os dados do World Press Photo 2018, indicam que 80% dos participantes do concurso são homens. Uma taxa que diminuiu já que, em 2015, esse índice era de 85% de fotógrafos.

Levando em conta o cenário do fotojornalismo, uma prática que envolve tanto a fotografia quanto o jornalismo, estamos falando de algo ainda mais profundo, onde falta diversidade no olhar de quem observa o cotidiano.

Nos últimos cinco anos, por exemplo, apenas Glenda Gordon ganhou um prêmio do World Press Photo em uma das categorias de notícias. Olhando, por outro lado, a história do Prêmio Esso, vinculado especificamente ao jornalismo, o número de mulheres premiadas é ainda menor. Em 55 anos, apenas duas fotojornalistas foram reconhecidas na categoria.

E se observarmos mais de perto a discussão, desde o início da profissão, as mulheres eram consideradas exceções. Dorothea Lange e Gerda Taro, por exemplo, são alguns desses nomes.

Não é à toa, nesse caso, que a pesquisa de Hadland, Campbell e Lambert, realizada em 2015, com 1.556 fotógrafos de mais de 100 países, indique que 72% destas mulheres fotojornalistas entrevistadas são autônomas e que as chances de serem empregadas por grandes empresas de mídia seja de 7%, em comparação aos 22% dos homens.

Na verdade, na maior parte das vezes, as mulheres que atuam como fotojornalistas enfrentam obstáculos que vão além dos riscos da profissão. O sexismo e a falta de oportunidades nas empresas de mídia e agências de fotografia são algumas das barreiras apontadas na pesquisa 2018, da World Press Photo. 68% das entrevistadas relataram ter enfrentado discriminação em seu trabalho como fotojornalistas.

Parece que não faz diferença, mas isso gera um impacto enorme sobre o mercado da fotografia e, consequentemente, sobre a forma como as pessoas observam o mundo. Especialmente, quando se pensa no fotojornalismo diário.

Mais mulheres no fotojornalismo

Predominantemente, homens. Mais da metade dos participantes, homens brancos. Esses são os dados da pesquisa do World Press Photo, de 2018. E isso significa, conforme aponta Zalcman, unilateralidade. Continuamos ‘a ter uma perspectiva unilateral das notícias, sejam elas políticas, guerras, moda ou esportes’.

A perspectiva de gênero nesse espaço surge como uma vertente em crescimento no mercado da fotografia. Não como forma de separar, mas com o objetivo de dar visibilidade ao trabalho de mulheres que atuam nesse ramo.

É uma forma de pluralizar um espaço que se faz homogêneo

O Women Photograph, por exemplo, é uma das iniciativas com essa ideia de pluralizar. Criada em 2017 pela fotógrafa Daniela Zalcman (que trata acima da questão da unilateralidade), a plataforma tem como missão: ‘mudar a composição de gênero da comunidade de fotojornalismo e garantir que os principais contadores de histórias de nossa indústria sejam tão diversos quanto as comunidades que esperam representar’.

Assim, o projeto funciona como um banco de dados em que estão presentes os nomes, as nacionalidades e os trabalhos de mais de 850 profissionais independentes do fotojornalismo.

Mas, o Women Photograph é só um dos exemplos de movimentos que buscam essa maior diversidade e representatividade para as mulheres. A Internacional Women’s Media Foundation e o Mamana Foto Coletivo são outros exemplos de projetos voltados para as fotógrafas.

O importante, nesse caso, é que a partir disso a discussão sobre a presença de mulheres na fotografia toma uma forma mais concreta. Ainda faltam dados que retratem, de maneira mais profunda essa situação. Mas, o primeiro passo é identificar que existe o problema.

Sem isso, falta diversidade e fica ausente a pluralidade que as fotografias trazem sobre os fatos e o mundo.