O 'eu corporativo'. Por Fernanda Lanza Llanas.

Quando falamos em Comunicação Institucional temos uma tendência a terceirizar esta responsabilidade. A alguém da Comunicação, a alguém do Marketing, à pessoa de RH ou o cara que fez o site. Enfim, qualquer desculpa que nos abstenha desta tarefa, dando-nos a prerrogativa de um bom álibi. A Comunicação Institucional, aliás, é tratada quase que como a terceira pessoa do singular. Como se vida própria tivesse e a ninguém pertencesse.

No entanto, se nos debruçarmos sobre o processo de comunicação e, mais pontualmente, sobre a origem da palavra comunicar – do latim communicare, igual partilhar, tornar comum –, facilmente compreenderemos que há de haver um sujeito deste verbo. Mas quem seria esta pessoa?

Certa vez, li em uma rede social algo que me marcou. Barbara Bernari, profissional da comunicação, dizia que é preciso trazer à luz o “eu corporativo”. Foi a primeira vez que ouvi esta expressão. Esta especialista em redação é italiana e eu adoro como ela traz a Literatura e a Filosofia para o contexto empresarial, para assim compreendermos com maior riqueza certos aspectos. E mencionar o “eu corporativo” foi uma dessas tentativas de nos fazer entender que é imprescindível que se tenha sobre o que falar para efetivamente comunicar algo. Portanto, a grande questão da Comunicação Institucional não é como comunicar, mas antes disso, o que eu tenho para comunicar? O que tenho para tornar comum, partilhar?

Quem é o sujeito desta ação?

Neste ponto retomo à reflexão com a qual iniciei este artigo. Quem é o sujeito desta ação? Quem é, afinal, o “eu corporativo”?

Acredito que somos todos e cada um de nós que, neste preciso momento, trabalhamos para determinada empresa. Somos liderados por alguém, ou somos líderes de outras pessoas. Estamos em cargos mais estratégicos ou na execução das tarefas. Juntos, compomos aquela pequena comunidade que se estabelece no entorno de uma marca. Mas somos nós quem damos vida a esta marca e não o contrário. E, por isso, temos uma responsabilidade coletiva sobre o que ela comunica.

Há, portanto, uma corresponsabilidade sobre a Comunicação Institucional. E por mais que realizemos processos para entender aspectos como propósito da marca, sem pessoas vivas e determinadas nada se comunica.

Por isso, nos cursos que ministro e nos treinamentos que realizo nas empresas não canso de repetir a líderes e colaboradores: olhem para vocês, olhem ao redor, reflitam! Busquem referências, leiam, reflitam! Tenham abertura para ouvir o diferente, voltem a olhar para vocês, reflitam!

Parece-me que com o tempo fomos perdendo nossa capacidade nata de refletir sobre a realidade, como num processo de amputação, onde perdemos aquele membro que nos ajuda a nos situar no mundo. E isso tem nos prejudicado, nos deixando à mercê das circunstâncias e das tendências, por mais antinaturais que possam ser.

Assim, encerro convidando você a se tornar protagonista de sua vida e consequentemente dos espaços nos quais convive. A Comunicação Institucional, no fim, depende da comunicação de cada um de nós que construímos diariamente uma marca através de nosso trabalho e da vida que empreendemos naquele ambiente. São as “coisas” que precisam de nós para ter um sentido e não o contrário.

Imagem: Pixabay.

Fernanda Lanza Llanas é jornalista com especialização em Corporate Affairs pela Fundação Getúlio Vargas. Com 20 anos de experiência em Comunicação Corporativa, atuou em agência de comunicação multinacional nos setores de bebidas e tecnologia, além de passagem pelo Terceiro Setor. É empreendedora, sócia-fundadora da Saife Comunicação (https://saife.com.br/), mãe da Luisa e da Helena, e gosta de legendar o mundo!