NOVA ARTICULISTA: Rosângela Manchon. A era da 'síndrome do vácuo'.

Durante nossa reclusão, nos piores momentos da pandemia, de isolamento total, nunca quisemos tanto estar próximos das pessoas e nos comunicar. Criamos ambientes virtuais de todas as formas, para nos aproximar uns dos outros. Uma carência que não tinha fim. Era Live de tudo, até a exaustão.

Passado o isolamento, noto que as pessoas se voltaram novamente para si mesmas e, infelizmente, muito mais intolerantes. Uma simples resposta positiva ou negativa, por e-mail ou mensagem de texto, tornou-se um artigo de luxo.

A exceção virou regra. Não devemos nos surpreender quando somos tratados cordialmente, mas estamos nesse nível. O comum agora é ser ignorado ou maltratado.

Trabalho há mais de 30 anos com Comunicação Corporativa, comuniquei-me com as pessoas de diversas formas. Não havia internet no início, não havia celular para mensagem de texto, áudio e vídeo. Era tudo no papel ou no presencial.

Hoje, felizmente, temos todas as facilidades e formas de contato, com pessoas de diversos lugares ao redor do mundo, em várias línguas, culturas distintas, mas não estamos conseguindo nos comunicar como se deve.

Não estamos conseguindo ser cordiais e diretos no processo de comunicação. As pessoas não respondem mais aos e-mails, muitas vezes nem os lêem, não visualizam as mensagens que recebem no WhatsApp, Telegram, Redes Sociais de relacionamento profissional e até pessoal e, o pior, algumas vezes até bloqueiam o emissor.

Eu chamo, entre os colegas de trabalho, que somos atingidos pela “síndrome do vácuo”. E me pergunto, diariamente, o que faz as pessoas ficarem tão ocupadas ou insensíveis ao ponto de não conseguirem responder umas às outras, de forma educada, mesmo que a resposta seja um “não”. E não falo de imediatismo na resposta, pois todos temos prioridades e tempo escasso, falo em responder dentro da mesma semana, pelo menos. Em dar uma satisfação a quem precisa apenas fazer seu trabalho de forma profissional e respeitosa.

Além da falta de retorno, também há aqueles que são rudes. Entendo que recebem todo o tipo de informação e aos montes, mas não devemos colocar no mesmo grupo dos “sem noção”, “inconvenientes” e “deselegantes”, os que apenas precisam fazer o seu trabalho e “vender” sua pauta.

Sei que somos metralhados, diariamente, por conteúdo, muitas vezes irrelevante. Há poucos espaços e muita competição, mas, mesmo assim, temos que ser gentis com quem nos trata com gentileza. E com um “não” de forma amistosa.

E tenho um exemplo prático para ilustrar este relacionamento. Se eu sou um chefe e ao revisar um texto de um colaborador, não mostrar a ele o correto e dizer por que estava errado (de forma educada), ele jamais irá aprender o correto. Ou no momento da demissão, não apontar os reais motivos por medo de represália. A pessoa precisa saber o que fez de errado, ou não, para não repetir a postura no próximo emprego. Isso é ser ético, preocupar-se com o progresso do outro. O mesmo acontece quando tentamos a comunicação e ao invés de recebermos um retorno, somos ignorados ou maltratados.

Em outras circunstâncias, a troca de informações ficou no âmbito do comércio. Ou você paga para estar lá ou simplesmente você não pode fazer parte daquele espaço.

E parafraseando dois amigos: “Este mundo não é um ovo, é uma ervilha” e “Tudo o que sobe um dia desce”, hoje somos os que enviam as mensagens, mas amanhã podemos ser aqueles que as recebem. Eis aí uma reflexão importante.

Por outro lado, há pessoas iluminadas e gentis, que têm empatia e se colocam no lugar do outro. Buscam ajudar, orientar, explicar, esclarecer e dizem o “sim” ou “não”, jamais o vácuo… Estes, como diz uma outra amiga: “merecem o céu”… e eu complemento… estes são os verdadeiros profissionais da Comunicação que merecem e engrandecem o mercado de trabalho, servindo de exemplo, ensinando aos demais e, principalmente, aos mais jovens e, desta forma, contribuindo para uma comunicação clara, efetiva e verdadeira.

Rosângela Manchon é mãe, consultora de Comunicação e escritora. Atua há mais de 30 anos com Comunicação Corporativa, tem passagem pelas mídias televisiva, impressa e trabalhos em Social Media. Coautora dos livros “Da informática à tecnologia da informação jornalistas contam suas histórias” e “Coletânea Pensamentos de Gaveta”, ambos pela Reality Books biografias.