Na comunicação, 2 mais 2 pode ser igual a 5. Tanto na propaganda quanto no jornalismo. Infelizmente.

É de se esperar que, para vender, o comerciante diga que uma laranja insossa esteja ‘um mel’ – mesmo sob o risco de perder uma segunda venda ao mesmo freguês. É idem compreensível que um corretor de imóveis assegure ‘paz de cemitério’ sem nunca ter passado um noite sequer no empreendimento – para saber, de fato, quais os ruídos da vizinhança.

Mas quando se trata de notícias… permitam-me um depoimento pessoal.

Milito no PRC, partido radical de centro. Mesmo sob o risco de ser taxado de ‘isentão’. Não conseguiria exercer meu ofício de professor, desde 1985 – depois de mais de 10.000 alunos (sem qualquer litígio… ou ‘treta’) – de outro modo. Este posicionamento está na conta de minha liberdade de pensamento, opinião, expressão e publicação.

Mark Zuckerberg e o texto ‘Zuckerberg não entendeu’, de Pedro Doria (acesse aqui).

Eu já venho manifestando o meu espanto há tempos. Desde os depoimentos deste cidadão no Congresso Americano e perante a União Europeia.

Assombrado pela apatia, pelo silêncio – ou pela subserviência – da mídia brasileira em relação ao Sr. Zuckerberg e sua ridícula, hipócrita e vã ‘preocupação com as eleições do Brasil, do México e da India…’. Sem dúvida… muito preocupado…

Como soava grave aquele statement do biliardário da web. Digno de um Churchill, de um Gandhi…

Ora, se tão comprometido, então, com a democracia, por que não tirou do ar a geringonça do ‘Zap-Zap’ durante os 45 dias de campanha eleitoral no Brasil de 2018? Por que não suspendeu os ‘impulsionamentos'(*) do Facebook?

Quem o senhor pensa que engana? Pelo menos no primeiro mundo – tanto nos EUA quanto na Europa -, o seu polvo ‘Facebook-WhatsApp-Instagram’ de estimação vem sendo questionado pelas leis que tratam de trusts, de concorrência e de privacidade, o que deve resultar – pelo menos – em um ‘fatiamento’ do seu poder. Ressalte-se ainda que, na China, queridinha do mundo (e da mídia) na sua fase ‘capitalista-membro-da-OMC’, seus brinquedinhos nem entram.

Preportagem, edstoryal, nãoticiário: fimprensa.

O que eu não contava é que hoje, já absolutamente indignado com o ‘jornazismo mainstream‘ – de pensamento único (ninguém-larga-a-mão-de-ninguém) eu manteria ativa a minha assinatura de O Globo só para usá-lo em sala de aula para exemplificar como NÃO se faz jornalismo…

Só valem notícias ‘com viés de baixa’… Mais ou menos como a programação da, também global CBN, onde há um programa diário chamado ‘Notícia Boa CBN’, veiculado de segunda a sexta-feira, com duração de… 1 minuto. Sinistrose na veia.

Exemplar…

Bernardo Mello Franco – pena opinativa a soldo n’O Globo -, se trai atribuindo a outrem (P. 3 – edição impressa de hoje) a prática tão cara ao grupamento que defende – de vasculhar a vida de seus opositores, construindo ‘dossiês’. Na mesma edição do jornal, algumas páginas adiante (P. 7), fica evidente a sua falsa indignação, e a prática do ‘acuse o adversário do que você faz’, já que na matéria sobre Ailton Benedito, seu colega Vinicius Sassine vasculha as redes sociais do procurador somente para pinçar manifestações que caibam em sua preconcebida narrativa – de crítica às convicções de outrem.

Eu já sabia – pelo relato de colegas da imprensa – que frequentemente editores mandam focas às ruas para coletar ‘personagens’ em cujas bocas as ‘aspas’ coincidam com já pré-concebidos textos. Lástima!

O veículo, dominante em seu mercado, também difunde a má prática de disfarçar de matéria jornalística o que, de fato, não passa de anúncio comercial. Dois exemplos (Shell e DASA) daquilo que deveria, cumprindo a Lei 4.680/1965, ser veiculado sob o título de ‘Informe Publicitário’ (já tratamos aqui, neste portal, do eufemismo enganoso ‘Projetos de Marketing’) – pior ainda – produzido pelo próprio veículo, solapando o trabalho publicitário de agência:

Além de conspurcar a ideia do Informe Publicitário – fazer saber o leitor, já no alto da página, de que se trata de espaço comprado -, o tal do ‘conteúdo patrocinado’ (lá no rodapé) conspurca também o próprio conceito de marketing, fazendo-o soar como seu mais nefasto desentendimento: o de ardil enganoso.

(*) Impulsionamento é a palavra-disfarce para anúncio pago nesses tempos de redes sociais.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).