- 'Influencer', eu? - Não, graças a Deus! Por Manoel Marcondes Neto.

A “monetização” da internet é a causa de muitos males que atualmente sofremos.

Era óbvio que um dia viria a “conta” da proverbial “gratuidade” da web.

Não posso afirmar que os seus criadores sabiam disso… provavelmente, sim.

Sobre o preço a pagar, vale a pena ouvir – vide link – o que nos tem a dizer Jaron Lanier, um ser típico do Silicon Valley.

Pequeno histórico

O meio militar, onde a internet nasceu, é setor com “licença para gastar”. E o meio acadêmico – que sucedeu a indústria da guerra no uso e no desenvolvimento da grande rede – idem.

Mas, depois, vieram as empresas. E, como sabemos, empresas são construtos humanos movidos a lucro.

É claro que a história da web – de uns 70 anos mais ou menos – está cheia de pioneiros idealistas e, até, de filantropos. Porém, o inevitável interesse pela “nova mídia” se estabeleceu – principalmente nas últimas duas décadas.

Primeiro, os provedores de tráfego e guarda das informações, depois os data centers prestadores de serviços. Desde o início, muitas empresas investiram em seus próprios “centros de processamento de dados” mas, hoje, a infraestrutura está muito mais distribuída e, com isso, mais barata – e, consequentemente, mais “popular”.

No começo, pagava-se para ter um simples endereço de e-mail (há quem pague por isso ainda hoje!). Meu primeiro e principal e-mail (no Yahoo!) é de 1999, e já o tive gratuito.

Os domínios – administrados por cada país – têm um custo ínfimo e há ferramentas gratuitas para a construção de “páginas” ou websites (blogs, portais, marketplaces etc.).

Todo um ecossistema se estabeleceu, então, e a própria mídia tradicional se viu obrigada a adotar o novo suporte “digital”. A mídia eletrônica rendeu-se (TV se tornou webTV, o meio Rádio se tornou web-Radio) e a própria mídia impressa também – e passamos a ter web-Revistas, web-Jornais e web-Livros.

Um último degrau – a web-Telefonia (ou telemática – integração da telefonia com a informática) requer informação adicional. No início, estabeleceu-se uma “guerra”; as gigantes da telefonia perceberam que a voz sobre IP (VoIP ou Voice over Internet Protocol) iria minar seus ganhos e congestionar suas redes (até então, majoritariamente físicas). E isto, sem falar do tráfego de dados (de empresa-a-empresa) -, um grande desafio legal, de regulação e de negócios. [O modo streaming (transmissão online dedicada – usuário-usuário – em tempo real) é, hoje, “o” instrumento de ponta].

Big dataBig business

Mas, como é proprio do meio empresarial, acordos foram sendo feitos, fusões, aquisições, parcerias e divisões de ganhos foram se estabelecendo, bem como investimentos – muitos investimentos. E chegamos ao momento atual – em que há abundância de meios, players, recursos tecnológicos e, principalmente, demanda. Todo mundo quer ter “sua lojinha” na internet… e precisa “otimizar” a sua “encontrabilidade”. Se antigamente usávamos o Guia Rex para encontrar um endereço numa cidade e as Páginas Amarelas para encontrar o telefone de fornecedores de tudo, hoje, as nossas procuras se dão por alguns toques na linha de pesquisa do Google – operação que ganhou até verbete no dicionário, um novo verbo: “guglar”.

A boa e velha publicidade foi a via da entrada do dinheiro (de anunciantes e de consumidores) na web. Mas, desconfio que os esforços de adaptação do ferramental tradicional das agências de propaganda não foram suficientes para abarcar a “nova mídia” e seus novos “veículos” – tanto que muita gente boa ainda confunde as duas coisas. E o – virtuoso – modelo brasileiro vem desmoronando há uma década, mais ou menos o tempo em que entrou em cena o tal do “marketing digital“, algo totalmente desregulamentado. (Aqui, no portal O.C.I., inúmeras matérias tentam compreender e analisar esta nova “disciplina” – que, a meu ver, ainda está longe de ser ciência).

Um monstrengo chamado “mídia programática” iniciou o jogo, desmontando toda a lógica e a praxe do negócio anunciante-agência-consumidor. Baseada em algoritmos (“ad sense” e “ad words”, do Google, são pioneiros “bots”), a veiculação de material publicitário (cards, posts, short videos, “publis”) passa a atingir alvos individuais via smartphones conectados à internet, e isto explica: (1) a queda vertiginosa de audiência dos veículos eletrônicos tradicionais (rádio, TV e cinema), e (2) a transformação que toda a indústria da propaganda teve que fazer (e ainda está fazendo) para adaptar-se aos novos hábitos e tecnologias.

Só que a legislação ficou para trás. Há falta de instrumental jurídico para lidar com “fake news”, “cancelamentos”, “flash mobs” e “influencers” – para o bem e para o mal. A União Europeia – com a GDPR -, e o Brasil – com a LGPD -, cuidaram de alguns aspectos importantes da privacidade dos dados pessoais dos usuários da web, mas ficou só nisso.

Injúrias, mentiras, sofismas, difamações e calúnias pululam no ambiente digital e nem sempre as reparações chegam a tempo. Até o suicídio (de jovens, sobretudo, envolvidos em “jogos” e threads online) teve crescimento só explicável pela entrada em cena de novos “veículos” viciantes e locus preferencial para fofocas, maledicência e demolição de reputações.

Nós, do Observatório da Comunicação Institucional, colocamo-nos à disposição para participar do urgente debate dessas questões que, em nosso campo, tanto espaço têm para prejuízo da comunicação institucional, tanto de personalidades públicas quanto de organizações em geral.

Manoel Marcondes Neto é cofundador e diretor-presidente do O.C.I.