Das cidades invisíveis. Onde a gente vive o que quiser viver. Por Maeve Phaira.

Start spreading the news / I’m leaving today/ I want to be a part of it / New York, New York… Tinha que ser na voz dele, Frank Sinatra. Nada define melhor a cidade que esta canção.

A verdade é que a gente não chega em Nova Iorque… estreia. Lá onde ninguém é ninguém, mas somos todos estrelas. Olhares que se cruzam e se perdem na solidão de cada um.

Todos pareciam ter um destino, menos eu. A cidade muda o jeito que a gente caminha. Estamos em Nova Iorque. Não vou negar que senti uma espécie de ‘caipinheirez’. Essa palavra existe? Sei lá! Foi a que me veio à mente para definir a sensação de que os prédios ultrapassavam as nuvens e quase tocavam o misterioso céu da cidade. Mas isso durou pouco… e logo ela me engoliu. Eu era apenas mais um.

De lá trago o meu melhor momento. Uma noite de muita ‘merda’ – como se diz no teatro – e muitas carruagens. Aida, de Giuseppe Verdi, no Metropolitan. A história conta o amor entre a princesa etíope e o comandante do exército egípcio, Radamés. O conflito entre o amor e o dever.

Não vou falar sobre a ópera, que dispensa comentários. Mas sobre o clima da antessala do teatro. Afinal, dizem que é lá onde tudo acontece. E como tudo fica interessante depois da segunda taça de espumante… Uma espécie de sussurro circulava no ar do ambiente, e o leve movimento da cabeça para baixo indicava que você tinha sido notado e cumprimentado pelos presentes, vestidos a rigor, tudo isso sob os lustres de cristal pendentes sobre as nossas cabeças. Juro que não vi a Maria Antonieta por lá. Certamente, uma cena comum para os nova-iorquinos, inédita para mim.

No palco, uma produção genial, com… cavalos, inclusive. E enquanto Radamés declarava o seu amor, cantado, à sua amada, os meus olhos, nos binóculos, saltavam de alegria. Enfim, Nova Iorque tem tudo o que uma metrópole tem, mas ela é diferente. Talvez porque o mundo se cruze nas suas avenidas. E eu quero voltar lá! Chamei o táxi amarelo. O motorista hindu perguntou: ‘Para onde vamos?’. Respondi: ‘Qualquer lugar…’.

Um dia descobri que somos palavras… E que carregamos um dicionário dentro de nós. Maeve Phaira.