Aos estudantes de Jornalismo, Radialismo, Propaganda e RP – conteúdo por mim apresentado em palestras havidas em outubro deste ano na Universidade de Uberaba (UniUbe) e na Faculdade da Serra Gaúcha (FSG).
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Referencio, neste conteúdo, principalmente dois autores: um, clássico, Norbert Wiener, pai da Cibernética, e, outro, contemporâneo, Jaron Lanier, autor de quem acabei de ler seu polêmico livro ‘10 argumentos para você deletar agora as suas redes sociais’ (LINK).
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Deixamos uma era de ignorância – em que não saber era uma contingência de não acesso, não letramento ou não vontade. Com a internet como a conhecemos hoje – já com 25 anos de idade, esta era acabou. Agora – estamos na ‘Era da Curadoria’.
Não trago verdades ou memes… prefiro falar em ‘dicas’, conselhos de um professor:
1 – Leia o que puder, mas escolha suas fontes recorrendo aos seus mentores, professores ou não.
Todo profissional de comunicação deve terminar sua formação básica e iniciar no mercado de trabalho contando com um referencial básico. Serão os seus paradigmas. Imprensa não é fonte de conhecimento. Literatura, sim. Como professor de Fundamentos Científicos da Comunicação, além dos dois autores mencionados, vou citar mais alguns – que são minhas referências.
2 – Elabore – e execute – a partir do conhecimento adquirido.
Compreenda que tudo o que produzimos; uma campanha publicitária, um programa de rádio ou TV, e o noticiário na internet – é sempre algo feito de escolhas. Pense que num determinado momento você será a pessoa a fazer essas escolhas. Não se restrinja a acompanhar o noticiário e as campanhas. Isso é pouco, insuficiente. Recorra à literatura. Nunca foi tão fácil ler os clássicos.
3 – Respeite a alteridade. E seja responsável.
Procure, na medida do possível, raciocinar sem viés opinativo, permitindo que o outro construa sua opinião e faça suas escolhas. Jornalistas, radialistas, publicitários e errepês são, por definição, formadores de opinião – o que traz uma grande responsabilidade. E a linguagem audiovisual (diversos artigos científicos pontificam: ‘internet é vídeo’) é a mais forte – o que aumenta ainda mais a responsabilidade.
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Olhando para a Filosofia clássica – cito, rapidamente, três pensadores fundamentais para a Comunicação: Sócrates, Platão e Aristóteles:
Sócrates – que não deixou obra escrita – só oral (imaginem-no como um precursor dos podcasts) – formou pensadores (como Platão) e sua contribuição metodológica, a ‘maiêutica socrática’, privilegiava a lógica argumentativa e um certo ‘saber inato’ transcendental.
Platão, por sua vez, provocou-nos com um mundo ideal – fora do sensorial – um mundo das ideias (‘Topos Uranus’), onde estariam as ‘coisas mesmas’, a verdade, sendo a nossa vida quotidiana falaciosa em tudo, mera representação desse ideal.
Aristóteles trouxe-nos a Dialética. Pai do processo educativo para mim, ensinou-nos a propor teses, discutir antíteses e buscar ciência, consciência, conhecimento e sabedoria. Não sínteses.
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Em livro de 2018, ‘Auditoria Funcional da Comunicação Organizacional’, inicio o prefácio assim: ‘Por uma revolução analógica…’.
Na verdade, faço um chamado ao fator humano. Uma virada para a real transparência, a sustentabilidade, decisões colegiadas e condutas éticas – os quatro pilares de uma governança mais justa, feita por gente, não máquinas. Peter Drucker é a referência aqui. Qualquer coisa deste autor – que no obituário, de 2005, foi elevado à condição de filósofo – vale a pena ler.
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Somos cientistas sociais. Ponto. Não opero com o conceito de Ciências Sociais ‘aplicadas’, rótulo atribuído à Comunicação e à Administração (área em que milito desde 2009). Esse termo ‘aplicadas’ vem para rebaixar a nossa contribuição intelectual – coisa indevida em minha opinião.
Somos operadores da comunicação, mas a nós cabe, também, refletir a par de operar a comunicação. E apreciar a arte, para além dos conteúdos da cultura de massa em todos os tempos, para fomentar a nossa própria cultura e prover melhores escolhas – tanto éticas quanto estéticas.
Roberto Porto Simões, saudoso professor gaúcho, chamava a atenção – criticamente – quanto ao perfil ‘tarefeiro’ que assumimos quando somos chamados para cumprir etapas ‘picadas’ sem a compreensão do todo. Há que fugir disso. Claro que em começo de carreira é o que aparece para todos nós… mas deve ser um norte fugir deste esquema. E empreender pode ser uma saída.
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Bom senso e discernimento são necessários, pois quando a mídia torce a verdade distorce.
Devemos muito aos grandes veículos de imprensa… mas com a perda do eixo central da informação para a internet… tornaram-se menos utilidade pública e mais instrumentos a serviço do capital – tanto de acionistas como de anunciantes.
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Vejo, triste, o destino de alguns profissionais da comunicação. Pessoas colocando-se a serviço de máquinas. Não satisfeitas com o uso de programas, portam-se como algoritmos. E querem dicas ‘passo-a-passo’ para segui-las roboticamente.
Herdeiros de uma tradição humanista na academia, agora renegam o fator humano. Reforçam uma inteligência artificial que rouba espaço de trabalho à inteligência natural.
Desumanizam apesar do discurso de humanização. Complicam, apesar da defesa da conveniência. Atrasam enquanto prometem agilidade. Desservem.
Peço a você: reflita.
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