A salvação do cinema está no 'drive-in'? Por Luiza Vaz.

Entra na fila, pega o ingresso, compra o combo pipoca com (ou sem) manteiga e refrigerante (não esquece o guardanapo), senta na poltrona reclinável, apaga a luz, a tela grande expande, o som aumenta… e pronto! O filme vai começar! Assim dava-se o início à sessão de cinema. Hoje, com a crise da Covid-19, a situação está bem diferente. Quem iria imaginar que após um ano de recordes de bilheterias, principalmente com o filme ‘Vingadores: Ultimato’, o mercado de cinema enfrentaria sua pior crise?

Assistir a um filme já não é como antigamente (aliás, como há três meses). Agora, é em casa, sentado no sofá ou deitado na cama, luzes apagadas, a claridade da rua, pipoca de micro-ondas e o start no controle remoto para o filme começar. Mas, no meio disso tudo, surgiu algo que parece ressuscitar a tradição da telona: o cine drive-in. E fica a pergunta: até que ponto ele é a salvação para o cinema?

Esses dias vi um webinar com o CEO da Cinemark, Marcelo Bertini, e ele falou que recebeu mais de 40 propostas para montar um cine drive-in no Brasil. Mas, recusou todas elas. É curioso porque muitos (como eu) acreditavam que o drive-in poderia ser uma salvação para o cinema. Mas… ele explicou que não sabe até que ponto é rentável e sustentável uma ação como essa – que precisa de investimento alto – para uma janela curta, podendo funcionar por um a três meses apenas. Um investimento muito pesado para as exibidoras de filmes – que estão há mais de 80 dias com seus complexos fechados – ou seja, com renda quase nula ou totalmente nula.

Confesso que tenho torcido muito para os cines drive-in manterem a boa fase no Brasil e irem além do Covid-19. Lembro quando fui fazer uma matéria na faculdade sobre o Cine Drive-in de Brasília e, se não me engano, o único no país naquela época (início dos anos 2000). Eu nunca tinha entrado nele. Nem sabia que existia um ambiente como aquele e muito menos que estava ali no mesmo lugar, no centro da cidade, dentro de um autódromo, desde agosto de 1973… Assim que entrei fiquei encantada com aquela mistura: céu, horizonte, tela, som e filme. Parecia que eu estava dentro do próprio filme. Uma experiência que extrapolava as salas de cinema e, mais ainda, as nossas salas de TV em casa com o streaming… Mas, mesmo com aquele encanto todo eu não conseguia entender o porquê daquele drive-in estar indo à falência naquela época.

Para minha (e nossa) sorte, o Drive-In de Brasília resistiu, virou patrimônio cultural da cidade em 2017, e agora vive lotado de carros para ver o infantil ‘Cegonhas – A história que não te contaram’, o drama ‘Adoráveis mulheres’ e o musical ‘Nasce uma estrela’. Filmes que já haviam sido lançados nos cinemas nos últimos anos. A curiosidade embalou as pessoas, que também não aguentam mais ficar em casa. Elas colocam a máscara, pegam uma manta, seus refrigerantes e guloseimas, as chaves do carro e vão. Ficam no banco da frente, no do passageiro ou mesmo no porta-malas (dependendo do tamanho do carro). O que for mais confortável. Não tem o vizinho chato da poltrona do lado que não para de conversar, nem o da frente que fica acendendo o celular e nem o de trás, cutucando com o pé aa sua poltrona. Daqui a pouco não duvido que apareçam locadoras de carros alugando para as pessoas irem somente ao drive-in.

Com essa onda do cine drive-in, já perdi a conta de quantos estão funcionando (ou preparando para abrir) no Brasil. Já tem em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Fortaleza, entre outras cidades. Eles ficam em estádios de futebol, parques, estacionamentos de museus e de restaurantes, dentro de autódromo, e até aeroporto virou cinema. Mas nesse caso foi em Montevidéu, Uruguai.

Estava com a esperança de abrir um cine drive-in em Congonhas – São Paulo. Mas como o CEO da Cinemark disse o investimento é muito alto para uma janela curta, ainda mais para setores que têm sofrido muito com a crise…

Talvez para as exibidoras de filmes o melhor mesmo seja investir nas suas bombonieres, como fez a Playarte e a Cinemark. Esta última até lançou um drive thru de pipoca no estacionamento de um shopping em São Paulo. Mas, onde fica o cine drive-in nisso? É uma nova concorrência para as salas de cinema ou um aliado à retomada do cinema tradicional? Bem, ainda não se sabe. Só o tempo dirá. Mas, tudo indica que drive-in e sala de cinema tradicional serão mais parceiros do que propriamente adversários nessa retomada que uma hora chegará.

Luiza Vaz é jornalista graduada pelo Centro Universitário Uniceub, de Brasília e pós-graduada em jornalismo esportivo pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), de São Paulo. Nos últimos anos tem trabalhado com assessoria de imprensa e marketing de distribuidoras e exibidores de cinema multinacionais.