A sala de visitas. Por Maeve Phaira.

Minha avó a mantinha a sete chaves. Não era permitido entrar lá. Somente nos aniversários, casamentos, alguma visita especial, e no Natal. No tempo em que criança não participava da conversa de adultos, eu era criança, não sabia nada, eles sabiam tudo.

Mas era lá onde eu queria estar. No silêncio da vitrola, naquele espaço vazio da casa, onde ficavam os discos e os livros. Onde era permitido sonhar. Lá onde piscavam as luzes da árvore de Natal, onde ficavam os presentes, pacotes, laços e fitas, onde a minha mente brilhava, sem parar, no ritmo do pisca-pisca dos natais da minha infância.

E tudo isso tinha cheiro. Uma mistura de alecrim, baunilha, nozes, saudade e vento. Sim, porque o vento sempre esteve presente. Talvez, por isso, criança, eu já sentisse saudade, sem saber muito bem o que sentia. Cada vez que ele, o vento, surgia e trazia os cheiros… trazia saudade. O vento traz todos os cheiros do passado. Só depois é que ela chega, a saudade.

Vezenquando, cheiro a minha infância. Vem o vento e tantos outros cheiros que permaneceram em mim.

A casa dos meus avós permaneceu.

Vezenquando, traz Caio Fernando Abreu.

Um dia descobri que somos palavras… E que carregamos um dicionário dentro de nós. Maeve Phaira.