Há muito tempo temos tentado avisar ao público que o jornalismo estava se tornando indistinto às demais áreas da comunicação. A seguir, Marcelo Ficher, coordenador deste OCI, comenta o texto ‘postado’ no website do Observatório da Imprensa.
A enxurrada de jornalistas em assessoria não levou a imprensa para dentro das empresas, pelo contrário, levou as empresas para dentro da redação. O chamado “modelo jornalístico de assessoria” não melhorou a comunicação empresarial na mesma medida em que piorou o jornalismo, tragicamente junto e misturado.
Daqui a algum tempo o MEC irá finalmente publicar as novas diretrizes curriculares para o jornalismo, separando essa formação das demais habilitações da Comunicação. Tomara que percebam a medida como alerta. O jornalismo existe para atender a interesses públicos, é um pilar da democracia, e seus profissionais devem ter foco e compromisso com seus princípios fundamentais.
Relações-públicas, publicitários e profissionais da comunicação de marketing são, em larga medida, administradores, são regidos pelo sucesso dos negócios das empresas que assessoram. Estão certos os que dizem que jornalistas são capazes de fazer isso. Eu penso é que não deveriam. Ou pelos menos admitir que estão fora da sua área precípua, que é por lei atribuída a outros profissionais, e se registrarem como pessoas jurídicas e se apresentarem como relações-públicas em exercício.
Fosse na Europa, deveriam entregar a carteira de jornalista no sindicato e licenciar-se da profissão. Apresentar-se como jornalista para representar uma dada organização confere uma “autoridade” a sua pessoa e ao seu representado que é própria do interesse público, porque é assim que é reconhecido o bom jornalista, iconicamente comprometido com a verdade possível dos veículos de comunicação como uma meta em perseguição. É uma autoridade imprópria, um deslocamento de sentido que, como ilustra o texto, ajuda a não distinguir ações jornalísticas – processo e resultado – de ações comerciais.
Os profissionais da comunicação nos negócios estão no seu habitat natural, a representação de seus clientes, são agentes da comunicação institucional e da promoção dos clientes. Mas jornalismo e jornalistas deveriam ficar fora disso. A ninguém interessa um jornalismo fraco. Mas essa bem que poderia ser uma consequência prevista no modelo jornalístico. A confusão entre jornalismo, publicidade e propaganda poderia ficar menor se fizéssemos como se faz no resto do mundo.
Ou você é uma coisa ou você é outra. E é melhor que todo mundo saiba.