Considerando:
- Minha experiência de mais de 30 anos no exercício da docência, na UERJ e em outras instituições;
- O debate atual provocado pela consulta pública (hoje com mais de 330 mil participantes) do Senado Federal acerca da inclusão do programa ‘Escola sem partido’ (PL 193) na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;
- As tecnologias da informação e comunicação disponíveis;
- A capacidade – por barateamento e maior acessibilidade – de manuseio da informação, via meios digitais, proporcionada pelo ambiente de computação eletrônica dito ‘Big Data’.
Talvez fosse o caso de professores, estudantes, administradores de ensino, pesquisadores, pais, mães e responsáveis, submeterem-se voluntariamente, no ambiente escolar, à lógica atual da internet e redes sociais, onde ‘tudo o que se dá na web é público’. Teríamos câmeras ostensivamente visíveis a todos, e todos poderiam assistir às aulas de todos. Uma espécie de cenário em que todos seríamos ‘big brothers’. Tal experimento já se dá na prática (embora numa só mão e com aceite compulsório) em algumas creches particulares. O objetivo é evitar maus tratos à prole da clientela.
Tal ‘rationale’ evitaria, digamos – num raciocínio estatístico tosco – 50% do ‘conteúdo’ veiculado na rede. Não haveria mais as desculpas do ‘sem querer’, ‘eu não sabia que estava sendo gravado’.
Dois episódios ilustrativos da questão público VERSUS privado. Um público e outro privado:
- O célebre ‘escândalo da parabólica’ de Rubens Ricúpero que, ministro de FHC, disse ao repórter Carlos Monforte, ‘no ar’ (achando que as câmeras e microfones estivessem desligados), que ‘… eu não tenho escrúpulos – eu acho que é isso mesmo – o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde’;
- Em 2012, após uma viagem a Londres, ao mencionar em sala de aula da UERJ (na disciplina ‘Comunicação para a transparência’) que a cidade possuía uma câmera para cada 14 habitantes, ouvi a seguinte reação de um estudante: ‘Absurdo! Que falta de privacidade!’. Ao que ponderei: ‘Você quer privacidade numa rua pública?’.
Observe-se que, ano após ano, cresce o número de vezes em que câmeras particulares auxiliam as autoridades em investigações de ilícitos. E por que são aceitas? Porque voltadas para logradouros públicos. Obviamente que para o registro de situações em ambiente fechado, particular, exige-se – necessariamente – a prévia autorização judicial.
Nesta etapa triste do mundo miserável em que vivemos, talvez fosse mais útil do que um programa ‘Escola sem partidos’, um programa universal de ‘Escola sem paredes’. A ágora grega adaptada aos tempos de mídia digital ‘one-to-one’.
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