Cristina Kirchner passa. Néstor passou. Menem passou. Evita, Isabelita idem. Mas o monopólio da mídia (*) veio se fortalecendo. Desde Juan Perón.

E a Argentina, há 100 anos atrás era a quinta nação do mundo. E isto não se devia somente à economia, ao PIB, mas também ao nível cultural, civilizacional. Qual terá sido a parcela de culpa da mídia nesta degradação?

Ontem, o próprio Grupo Clarín propôs a sua divisão em seis “grupos”. Está claro, pois, que o polvo é mais poderoso do que a sã concorrência recomenda. Em qualquer país do mundo.

Note-se bem: não foi o governo quem definiu limites à comunicação conglomerada (na Argentina a concentração de controle e poder é pior que no Brasil: a rede é proprietária das emissoras (no caso, quase 300 – aqui são de apaniguados, amigos, parentes, correligionários e laranjas). Foi o Estado quem definiu os limites. Em lei. E julgada constitucional. A batalha já passa de seis anos de longa. O grupo é que, agora, vem a público e assume seu próprio gigantismo.

E a Rede Globo ainda noticia, ato falho, que “o Grupo Clarín é o maior grupo de comunicação de oposição da Argentina”. Como assim, “de oposição”? Desde quando uma empresa pode declarar-se “de situação” ou “de oposição? Pode até sê-lo, mas nunca declará-lo. Isso seria um imiscuir de política a iniciativa privada. Insuportável. Anti-sistêmico. Entrópico. Caótico. Ah… temos “antecedentes”. A Fox assumiu-se anti-Obama…

Ainda tem muita água a correr por debaixo do madero, mas assim como Chávez teve a coragem de desmontar a Globovisión, teremos que ter a nossa e desmantelar as “organizações”, que monopolizam 70% das verbas publicitárias brasileiras. Desde Costa e Silva.

Pode demorar, mas a nação tem um encontro marcado consigo mesma. E assim como os venezuelanos, quando não estivermos pregados “além da vida”, ou do horizonte, descobriremos – não sem dor – que no país falta de tudo. De cidadania a papel higiênico. De justiça a segurança. De educação a saúde.

O Estado está falido e endividando-se. Com Collor, FHC, Lula, Dilma… A marcha não para e já temos 33 partidos. Mas o disléxico PMDB manda. Desde 1985, com Sarney – ex-presidente da ARENA.

Bem, o monstro voltou a dormir. Marco Antonio Villa é brilhante em seu artigo de hoje, n’O Globo, demonstrando-o. Vai ser preciso mais algumas rodadas de rua para o Brasil acordar e ser uma democracia com povo (não sou marinero) e não o Detrito Federal (**) florão da América que é, desde o descobrimento. Talvez não seja para eu ver, mas o despertar há de vir. Tento contribuir ajudando a educar pessoas há 28 anos com esta esperança, porque minha geração, “X” (xis porque não disse a que veio) falhou no intento de mudar o mundo – como prega o Itaú na sua propaganda institucional da estação. Se eu desistir, é porque a minha esperança terá acabado. E aí, recolher-me-ei.

(*) Monopólio da Mídia é título do livro de Ben Bagdikian.

(**) Detrito Federal é título de banda de rock.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).