Você já tem seu salva-vidas? Por Claudia Chaves e Renata Victor.

Todos observam o nível do mar recuar rapidamente, enquanto uma colossal onda se forma no horizonte. A pergunta persiste: preferimos surfar nessa onda iminente ou ser engolidos por ela?

Na era BANI, onde o mundo se torna mais frágil, ansioso, não linear e incompreensível, é impossível olhar no retrovisor. Em meio a essa constante mudança, a chave para sobreviver é a adaptabilidade. A comunicação, intrinsecamente ligada à compreensão do contexto, sente os solavancos dessa nova realidade, com o avanço tecnológico, a pandemia e as transformações no mercado de trabalho ampliando a complexidade desse cenário.

Por muito tempo, ser profissional de comunicação implicava trabalhar em veículos ou departamentos corporativos. Carteira assinada, torcida pelo bônus, plano de saúde, VR alto. Mas agora a torcida é de outra ordem. Primeiro, o que é crucial : a diferenciação entre informação e comunicação, frequentemente esquecida, sobretudo quando o foco está na manutenção do trabalho. Nosso papel hoje é mais do que reproduzir o briefing, o release. Não se pode mais repassar os dados – ou passa adiante se não vira elefante. Arquitetos de pontes entre informação e compreensão, adotando novos papéis e estratégias. As grandes catedrais devem ser o foco.

Na reestruturação geográfica do mundo conectado, observamos uma metamorfose na disseminação da informação. O modelo unidirecional tradicional, em que veículos falavam para as massas, exerciam o chamado quarto poder, cede lugar, desde o final do século passado, a um paradigma mais complexo, onde todos são, de alguma forma, produtores de conteúdo. E não pode ser como conversa de botequim, onde um grita mais, um outro conversa e ao final, não sobra nada.

O desafio contemporâneo não reside apenas na multiplicidade de vozes, mas na qualidade e relevância do que é comunicado. A chamada democratização da produção de conteúdo exige uma nova consciência da responsabilidade que valida ainda a maior máxima de “O pequeno príncipe”: és responsável tudo aquilo que cativas. Combater o tubarão que nos ronda de boca aberta, dentões à mostra, as notícias falsas, é nadar, nadar e não morrer na praia.

E aí você pergunta: tudo isso eu já sei; cadê a novidade? O salva-vidas é colete, é bóia, é canoa, é o bombeiro chegando? Pois é. Dessa vez ninguém te joga a corda. Pela primeira vez na história da humanidade, o emissor não é o único senhor da guerra e muito menos o comandante do barco. O contexto nos empurra para o super-poder da audição, do super-herói que a Marvel não criou. Temos os colegas, empresas, artistas, influenciadores, embaixadores de marca e nichos específicos. O homem da rua e o homem da Lua.

E, ainda por cima, tem um bicho-papão: os algoritmos. São outras as habilidades, o conjunto delas, um mistura-e-manda de papéis: simples contação de histórias, incluindo elaboração de storytelling, análise de dados, produção audiovisual, autogestão. Aqueles que ousarem nadar na crista dessa onda são os resilientes que encontrarão oportunidades na inovação, nos novos modelos de produção, comercialização, distribuição e no uso inteligente da tecnologia.

Dessa vez, não se pode mergulhar e rezar para a onda passar. Chegou a hora de mostrar valor e não nadar contra maré, ou ficar na praia e achar que vai dar três pulinhos e estará salvo… Se não pode sair correndo, só você pode ser o salva-vidas com um olho no peixe e outro no gato. Os novos modelos e sua capacidade de não temer e enfrentá-los. E nadar de braçada em qualquer momento: o foco é no resultado, seja de vendas, seja de imagem. Essa é a única coisa que nos dá vida. E sobrevida.

Claudia Chaves e Renata Victor são pau para toda obra em Comunicação e nasceram para trabalhar, estudar. Claudia Chaves é doutora em Artes e Entretenimento, e Renata Victor é mestre em Tecnologias da Comunicação e Cultura. São profissionais de longo curso, sempre com pé nas canoas do mercado e da sala aula. Agora, juntaram-se para escrever e criar projetos que contemplem a vida da comunicação como ela é.