Um funeral real e a comunicação governamental. Por Simone Carvalho.

A rainha Elizabeth II (1926-2022) foi a monarca mais longeva do império britânico. Em que pesem as discussões sobre o colonialismo perpetuado por esta monarquia, não podemos negar que a figura de “Betinha”, como foi carinhosamente apelidada pelos brasileiros, foi uma das grandes marcas deste último século.

Seu reinado foi transmitido pelos meios de comunicação de massa desde sua coroação até sua morte, que impactou a população que aguardou horas na fila para se despedir de Sua Majestade. O que vimos nos dias após seu falecimento foi uma produção super planejada e bem executada de um evento fúnebre de Estado, sem margem para erros ou improvisos.

Mas a pergunta que eu faço é: o que representa um funeral de Estado para a comunicação?

Qualquer evento estatal tem suas regras de cerimonial e protocolo, que devem ser seguidas a risca para evitar quaisquer mal-entendidos. Desde a mais corriqueira ordem de precedência até a identificação de todas as autoridades presentes, a listagem para o posterior agradecimento em voz alta pela presença é uma atividade crucial para o pessoal da comunicação.

Cada país tem suas regras, que devem ser respeitadas, inclusive no quesito religião. Em se tratando de eventos oficiais que demandam a presença de chefes de estado, deve ser aumentada ainda a preocupação com a segurança das autoridades presentes.

Ao pensarmos nos cidadãos que têm interesse no evento, independente de sua motivação, temos também uma natural preocupação com o bem-estar das pessoas que estão na fila e com o potencial surgimento de uma multidão irascível.

No Brasil, os lutos oficiais são de 3 a 7 dias, sendo que o prazo depende da importância do falecido em questão – observe-se que para o chefe de estado este período é de 8 dias. Neste período, a bandeira nacional é hasteada a meio mastro nas repartições públicas da esfera que decretou o luto oficial. Caso a bandeira esteja sendo conduzida em alguma cerimônia, deve ter um laço de crepe na ponta da lança.

O falecimento de um chefe de estado no Brasil, por ele ser também chefe das forças armadas, segue o cerimonial militar, que envolve as “salvas” de tiros em quantidade a ser determinada de acordo com a importância da pessoa, como o esquife será transportado e como a bandeira será dobrada.

Ainda temos, no Decreto No. 70.274, de 9 de março de 1972, que o Ministério da Justiça é o encarregado das comunicações aos governadores, que deverão encerrar o expediente nas repartições públicas e manter o comércio fechado no dia do funeral.

Independentemente da tristeza familiar e da comoção nacional que a perda de um chefe de estado cause, não podemos nos esquecer do nosso papel como comunicadores e responsáveis pela comunicação e pelos relacionamentos com os públicos de interesse nessa situação e devemos agir com o profissionalismo que é esperado de nós.

E você, qual a sua opinião sobre esse acontecimento marcante?

Dica de leitura: existem livros que são constantemente citados. Um grande clássico da literatura política, “O príncipe”, de Nicolau Maquiavel é um deles. Embora tenha sido escrito no Renascimento, ainda é uma obra fundamental para tratar sobre poder e ética.

Simone Carvalho é relações-públicas, mestre e doutora em Ciências da Comunicação (ECA-USP), com MBA em Gestão Empresarial (FGV). É especialista em Inovação e Gestão em EAD (FEARP-USP) e atua na área pública desde 2011. Atualmente, trabalha com relações governamentais na Educação superior pública, além de ser docente universitária no complexo FMU/FIAM-FAAM. LinkedIn – https://www.linkedin.com/in/simonecarvalho/ | E-mail: profasimonealvesdecarvalho@gmail.com