SOLUÇÕES COM DESIGN - Viver um projeto na pele. Por Gisela Monteiro.

Eu era recém-formada quando resolvi fazer o livro sobre uma propriedade particular no interior de Minas Gerais. O livro fez tanto sucesso que fui contratada pela Prefeitura da cidadezinha para fazer o livro da cidade! Foi uma das aventuras de que mais me orgulho, e sei que contribuiu muito para a minha vida profissional.

Em ambos os casos, chamei a minha irmã para escrever o conteúdo, pois ela estava fazendo Letras e sempre foi ótima com as palavras. Arrumamos as malas e fomos com meu tripé e a minha K1000. Para quem é muito novo, K1000 é uma máquina de fotografia de filme de rolo da marca Pentax: minha grande companheira.

Isto foi no final dos anos 1990. Era um mundo pré-internet, tudo muito diferente do que é hoje em dia. O que eu mais amei é que a gente tinha que fotografar os pontos turísticos da cidade, as fazendas e as fábricas. Lembro que comi iogurtes deliciosos. Na época, eu odiava café, mas se eu não tomasse seria uma “desfeita” aos anfitriões. Pior era aquele biscoito de nata que não tem gosto de nada. Eu, da cidade, entrei em um Brasil que eu nem imaginava que ainda existisse. Parecia que estava vivendo num livro de Guimarães Rosa. Visitei escolas, conversei com vacas, abri porteiras, e, principalmente, abri meus horizontes.

Você deve estar se perguntando: e o livro? Ficou bom? Eu responderia: foi o melhor que eu pude fazer com meu conhecimento da época, usando o meu computador 486. Então, eu respondo: ficou bom e ponto. Fiz uma capa verde clara com uma janela que dava para ver a “marca” do município. Dentro, eu diagramei o texto com arejamento e hierarquia. Como o orçamento da Prefeitura não cobria impressão em gráfica off-set, fiz a impressão de uma pequena tiragem de forma caseira, da qual não me orgulho.

Não importa hoje o resultado do projeto, mas esta experiência abriu portas para mim. Até porque minha vida de recém-formada não estava sendo nada fácil. Parecia que eu estava correndo em uma estrada numa noite sem lua. Daí, falei comigo mesma: se o emprego maravilhoso não chega, vou me jogar e fazer o melhor que posso. Preciso ter uma história boa, um portfólio de verdade”. E fui. Aquela experiência, na época, foi importante porque percebi meus pontos fortes e fracos e corri atrás do que achei que devia. Hoje percebo que esta aventura livre, aliada à possibilidade de viver um projeto na pele, me fez uma pessoa melhor.

A designer Gisela Costa Pinheiro Monteiro é professora do Departamento de Design e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, doutora, mestre e graduada pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ESDI/UERJ) e técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro.