Tenho diversas paixões, e a sinalização é uma delas. Não perco a chance de fotografar uma placa e gosto de construir um acervo desses registros, tanto dos projetos que achei bem resolvidos, como os nem tanto. Analiso cada detalhe, toda a parte gráfica, como o desenho das letras, o espacejamento e o arejamento ao redor de cada palavra. Importante também observar como a placa foi disposta no ambiente.
Além disso, aprecio notar toda a parte relacionada à produção, como o formato, a espessura, os materiais e os acabamentos escolhidos: se a letra está em baixo ou alto relevo; se é adesiva; e se foi aplicada pela frente ou por trás de algum vidro ou acrílico etc.
Sempre que possível, gosto de medir a placa e uso minha mão como uma referência, porque nem sempre estou com uma régua na bolsa. Acho que as pessoas devem me considerar um tanto excêntrica quando me olham tirando foto da minha própria mão ao lado de uma placa, mas não estou nem aí. Depois transformo essas experiências em aulas.
A placa robusta do banheiro feminino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (acima), por exemplo, tem grafada a palavra “SENHORAS”, uma maneira de escrever formal e em desuso atualmente. As letras, em caixa alta, foram desenhadas uma a uma: basta observar a diferença entre os dois “S”. Além disso, o “H” e “O” se assemelham à forma triangular do “A”. A barriga do “R” guarda uma leve semelhança com a letra “O”, por ser bicuda… E todas as letras possuem um acabamento de serifas nas extremidades. A placa é emoldurada com uma borda do mesmo material. Molduras são uma característica gráfica muito usada na época (100 anos atrás). Não é uma moldura qualquer; ela tem dois meios círculos em cada borda. Está em alto relevo e as letras em baixo-relevo. O envelhecimento ajuda a criar uma terceira cor, uma tonalidade de betume, que contrasta bem no dourado, deixando a placa mais visível e as letras mais legíveis. Ela está centralizada na porta. A fixação, embora aparente, com quatro parafusos dourados, mal se nota, pois estão posicionados cuidadosamente nas extremidades do retângulo da moldura. Hoje em dia, a confecção de uma placa como essa teria uma produção muito cara.
Atualmente, existem alternativas variadas e mais econômicas, que são bastante usadas porque, em muitos lugares, é comum haver mudança das informações de tempos em tempos. Isso se deve à natureza dinâmica das cidades, onde nomes podem ser alterados e, também, devido à vulnerabilidade da sinalização ao vandalismo e à dificuldade de resistir adequadamente ao longo do tempo, especialmente quando exposta ao sol intenso.
Por isso, em um projeto, é crucial considerar a sinalização como um sistema, levando em conta a viabilidade da reposição de placas danificadas ou desatualizadas.
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A designer Gisela Costa Pinheiro Monteiro é professora do Departamento de Design e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, doutora, mestre e graduada pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ESDI/UERJ) e técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro.