Recentemente, usei misturadores de monocomando em chuveiros de hotéis em uma viagem que fiz e achei um deles muito interessante. Fiquei experimentando passar da água quente para a fria um tempão. Enquanto os movia, ficava pensando que certos produtos não comunicam bem o seu funcionamento para o usuário.
Note que no primeiro misturador não há nenhuma indicação. Pela lógica, como ele se movia por baixo, eu achei que quanto mais para a direita ele estivesse indo, mais quente ficaria. No segundo, uma letra C – de “cool”, indicava “frio”-, mas era minúscula e só a vi quando tirei a foto. Na minha casa, os registros também não têm a marcação de quente ou frio e, embora eu ache óbvio, as visitas sempre me perguntam qual é o da água quente.
Outra situação que já reparei é a dúvida que as pessoas têm com as setas para chamarmos o elevador. No térreo, por exemplo, a questão é se devem apertar a seta para baixo – porque querem que ele desça (afinal, falamos que estamos “chamando o elevador”) -, ou se devem apertar a seta para cima, porque o que vale é o desejo de subir.
Um terceiro caso é o botão do vaso sanitário de caixa d’água acoplada. Os atuais têm um botão para número 1 e outro para o número 2. Geralmente um é menor e o outro maior. Parece que o botãozinho é para o número 1 e o maior para o 2. Mas algumas empresas colocam o desenho de poucas gotinhas em um botão e o de muitas gotinhas no outro. Então, há a dúvida se o que tem muitas gotinhas está se referindo ao xixi porque é mais corriqueiro.
De tudo isso, o que se conclui é que nem tudo é tão intuitivo assim. Por mais que haja alguma norma, é preciso tentar fazer com que o designer reflita sobre como pode projetar o produto de maneira que ele se comunique melhor com o usuário.
–
A designer Gisela Costa Pinheiro Monteiro é professora do Departamento de Design e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, doutora, mestre e graduada pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ESDI/UERJ) e técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro.