Relações Públicas e gestão de imagem: uma reflexão sobre autenticidade articulada. Por Nayara Brito.

Não há como escapar: falou de Relações Públicas, falou de gestão de imagem e reputação por meio da comunicação. Essa é uma das grandes funções da profissão, a qual foi bastante citada nos últimos dias, por conta dos episódios envolvendo pessoas públicas (artistas, influenciadores e toda-a-sua-fama) e suas participações na edição 21 do reality show Big Brother Brasil. Muitos profissionais da área, diante de tais repercussões negativas por parte dos confinados, defenderam a importância da atuação de um RP nesse contexto, no que tange à gestão da imagem das personalidades que poderiam – ou já estariam – com suas reputações em jogo no mundo ‘aqui fora’.

O fato é que, apesar da necessidade de uma gestão de crise coletiva – levando em consideração todo o contexto sob o programa – todas as organizações e pessoas públicas, como artistas e influenciadores digitais, estão passíveis de enfrentar momentos delicados e um tanto quanto polêmicos em suas jornadas de construção de imagem e reputação, e isso não é novidade. No entanto, em um contexto no qual se valoriza a autenticidade, o verdadeiro-eu de empresas e pessoas, chega a ser contraditório quando essas, ao revelarem seus lados mais críticos – e obscuros também –, serem rejeitadas, julgadas no ‘tribunal da internet’ e condenadas sob a jurisdição da cultura do cancelamento. Mas é sob essa equação que a sociedade, sobretudo digital, tem se resultado.

Dessa forma, se não podemos ser totalmente autênticos dentro de determinado contexto instaurado e, ao mesmo tempo, precisamos preservar a boa imagem perante tudo e todos, encontramos na autenticidade articulada a resposta como parte da gestão estratégica de reputação. No entanto, até que ponto este tipo de posicionamento pode ser considerado transparente e confiável, se as piores faces das organizações e das personalidades são escondidas e mascaradas em prol de uma imagem positiva?

É preciso ter em mente que não possuímos o controle total da construção da imagem perante os públicos. Em alguma situação, pode acontecer, de toda autenticidade articulada ter o seu momento de verdadeira autenticidade ou, autenticidade extrema, como coloca Issaaf Karhawi, pesquisadora do COM+USP, e que defino como a exposição do lado negativo sob o positivo, revelando faces e ações que não estavam no script e que não poderiam aparecer publicamente, ou seja, a origem de todas as crises.

Apesar de todo senso de responsabilidade que organizações, marcas e pessoas públicas possuem e devem transparecer e impactar positivamente consumidores, acionistas, colaboradores e cidadãos, devemos compreender que em mundo humanizado perfeições não existem e que ademais de toda autenticidade articulada, há uma instituição composta e gerida por pessoas que estão sujeitas ao erro e que merecem respeito. E que o acertar, apesar de ser uma necessidade constante no trabalho de um relações-públicas (para gerir estratégias de imagem e reputação), não deve ser traduzido em uma representação de incoerência institucional ou inverdades. Até porque autenticidade também significa verdade e, mesmo que esta não seja positiva, precisa sempre prevalecer em qualquer contexto, em qualquer trabalho.

Nayara Brito é relações-públicas e dedica suas escritas a temas que geralmente causam inquietações e questionamentos em sua mente. Sempre pautada em assuntos que se originam da comunicação como um todo, procura transmitir um pouco de suas reflexões, experiências e estudos por meio de seus conteúdos. Acompanhe seu trabalho também em https://www.linkedin.com/in/nayarabrito/.