PROBLEMAS PARA DESIGNERS – Pedras portuguesas: tradição carioca deve ser cuidada. Por Gisela Monteiro.

Quem já experimentou pisar na pedra portuguesa descalço, pode dizer que a sensação é ótima, pois a textura dela é muito boa. Além disso, é uma tradição na cidade do Rio de Janeiro, muitas vezes usada para fazer desenhos na calçada.

Em Copacabana, por exemplo, é possível admirar do alto dos prédios um painel contínuo em escala urbana criado por Burle Marx na década de 1970. No entanto, a realidade de quem caminha pela rua não é a mesma. Há muitas pedras soltas, por falta de manutenção e, às vezes, em função das raízes das árvores, que crescem por baixo do calçamento, levantando o piso. O resultado é uma quantidade enorme de buracos nas calçadas.

É verdade que a Prefeitura e os condomínios (que são responsáveis pela parte da calçada que ficam em frente aos seus prédios) fazem consertos, mas eles são verdadeiros “remendos”, muitas vezes mal feitos, tanto que é comum ver as cores das pedras misturadas, estragando o desenho original do chão. Talvez isso aconteça porque as pessoas não têm a dimensão de que o Rio de Janeiro é uma cidade turística e não tratam a rua com o devido esmero. Verdade seja dita que, em alguns casos, tenho visto empresas especializadas em calçamento sendo contratadas tirar todas as pedras, alisar o chão e assentá-las novamente. Isso dá um bom resultado.

Em lugares públicos, como o calçadão da praia, deveria haver mais calceteiros (profissionais especializados em fazer calçadas de pedra portuguesa) para preservar esse patrimônio. Aliás, é possível ir além, propondo que turistas comprem a experiência de aprender a calçar as ruas, pagando para prender uma única pedra. O dinheiro arrecadado poderia reverter para a própria manutenção do calçamento.

Designers dever dar atenção às pedras portuguesas. Elas podem ser pensadas enquanto superfície, já que é possível gerar motivos e padrões gráficos, assim como fez Burle Marx, e até usá-las em outros contextos, sem ser como piso. Especificamente sobre o calçamento, podem também pesquisar sobre a fixação das pedras, a fim de propor formas mais fáceis de  consertar as calçadas.

Gisela Pinheiro Monteiro é professora de Desenho Industrial da Universidade Federal Fluminense. Doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas.