Outro dia estava andando de bicicleta na rua e parei para atravessar o sinal. Do meu lado, parou um lixeiro, e notei que havia um prego espetado em cada um dos quatro cantos da borda do container de lixo. Percebendo meu interesse, o gari me disse que eles precisaram improvisar essa solução para que os sacos plásticos não caíssem para dentro do container, pois as lixeiras não vieram com esta função tão importante (um exemplo do famoso “jeitinho brasileiro”).
Começamos a conversar e me apresentei como professora de design, comentando que meus alunos criavam objeto, inclusive lixeiras. Perguntei se poderia tirar foto para levar para meus alunos, pois tinha achado a solução criativa. Todo orgulhoso, ele concordou e aproveitou para desabafar, comentando que as pessoas que fazem os equipamentos deveriam acompanhar o trabalho deles para criar coisas que atendessem as reais necessidades. O gari aproveitou para me mostrar a pá de lixo, que tinha feito com o reaproveitamento de uma lixeira de poste. Percebi também que ele amarrava de forma improvisada as coisas pessoais dele na alça do container.
Quando o sinal abriu, agradeci e nos despedimos. Embora breve, foi uma das mais proveitosas conversas que já tive, pois este caso exemplifica que conversar com quem os usa ou vai usar um produto deve ser uma prática comum no processo de criação.
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Gisela Pinheiro Monteiro é professora de Desenho Industrial da Universidade Federal Fluminense. Doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas.