PROBLEMAS PARA DESIGNERS – Canteiros e golas de árvore sofrem com oscilações do terreno. Por Gisela Pinheiro.

O Rio é um local turístico e deveria ser cuidado por nós com mais zelo. Principalmente as calçadas, que estão muito maltratadas. É preciso ficar atento, por exemplo, para não levar tombo nos canteiros que, muitas vezes, estão destruídos e abandonados.

Projetar canteiros e golas de árvores é um desafio. A meu ver, o designer de produto deve se unir a um arquiteto e a um paisagista (ou alguém lide com botânica) para buscar uma solução que seja adequada à nossa realidade.

A rua em que moro tem três quadras e uns vinte modelos de canteiros. Cada prédio faz o seu. E quase todos deram errado. Um deles, por exemplo, era de alvenaria revestido de azulejos brancos, o que foi uma morte anunciada: primeiro, as bordas se quebraram; depois, o azulejo branco ficou muito sujo com o xixi dos cachorros e a poeira das ruas; posteriormente, o canteiro começou a ruir por conta do crescimento das raízes da árvore. Por fim, tudo foi retirado, deixando o canteiro vazio e aparente a solução anterior, que eram uns canos de ferro emendados com joelhos: uma espécie de alças presas bem rente ao solo, ou seja, um perigo para as pessoas cegas ou distraídas como eu que podem passar por cima dele, ficando com um dos pés presos.

Outro exemplo marcante de canteiro na minha rua, é o que chamo de “mini obra faraônica”, pois, para conter a força da raiz das árvores, ele foi construído com uma parede de 25 cm de espessura, quase da largura de um banco. Porém, para evitar que as pessoas se sentassem, colocaram um revestimento áspero de chapisco e fizeram um grande chanfro no topo, deixando a superfície inclinada. A obra foi bem-feita, mas o problema é que o canteiro ficou muito grande para a dimensão da calçada.

Já o canteiro do meu prédio funcionava como a lixeira da rua. Ninguém me contou, eu vi uma senhora catar o coco de um cachorro e jogar o saquinho de plástico lá. E fez isso estragando o que eu tinha plantado nele. Resultado: transferi o que sobrou das plantas para outro lugar e tirei o canteiro, mantendo somente uma gola ao redor de cada árvore, mas, certamente, há soluções melhores.

Designers: existem mais coisas no mundo do que projetar produtos de consumo. Deem atenção também aos equipamentos de uso público, pois a rua está repleta de oportunidades, além dos canteiros e golas de árvores que citei aqui.

Gisela Pinheiro Monteiro é professora de Desenho Industrial da Universidade Federal Fluminense. Doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas.