Quando chego na praia, em qualquer ponto que seja, sempre vem um barraqueiro que me pergunta: “bom dia! Deseja uma água de coco, uma cadeira, uma barraca ou outra coisa?” Sempre respondo a mesma coisa: “não, obrigada”. Mas a minha real vontade é dizer: “sim, gostaria que você contribuísse com a limpeza da praia, catando canudos, tampinhas, copos descartáveis e outras coisas que ficam pela areia, que, em última instância, são gerados pelos produtos que você vende. Você poderia fazer isso para mim?”
Barraqueiros, de modo geral, são pessoas educadas e solícitas. Como no Rio é verão o ano todo – o que muda é a intensidade do sol –, eles trabalham diariamente, cuidando para manter a freguesia bem atendida. Isso inclui oferecer bebida gelada e serem pessoas de confiança. Se eu estiver sozinha e precisar dar um mergulho, não hesito em deixar minhas coisas em um canto de uma barraca. Tanto que existe até o Projeto de Lei nº. 257/2021, cuja ementa declara os barraqueiros da praia como patrimônio cultural de natureza imaterial do povo carioca.
No entanto, esses homens e mulheres não consideram a coleta de lixo como uma função deles, ou pelo menos algo que eles poderiam fazer, nem que fosse para melhorar o ambiente em que trabalham e fazer com que os clientes consumissem mais. Como eu sempre cato o lixo da praia, muitas vezes eles vêm me ajudar, e até comentam que as pessoas deveriam seguir meu exemplo. Segundo eles, a culpa é sempre do banhista, às vezes gringos, mineiros, paulistas ou seja lá quem for que eles resolvam responsabilizar. A verdade é que eles não percebem que têm responsabilidade direta com o lixo que é deixado na praia diariamente.
De fato, eles têm lixeiras nas barracas que são de plástico. No entanto, geralmente estão quebradas ou são todas furadas e lixos como canudos voam pelos buracos. Até hoje, só vi ancinho em uma barraca, mas estava todo enferrujado largado em um canto. Está aí apresentado mais um problema para designers de produtos resolverem.
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Gisela Pinheiro Monteiro é professora de Desenho Industrial da Universidade Federal Fluminense. Doutora e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas.