Precisamos falar da nossa derrocada no setor de eventos. Por Andrea Nakane.

É claro que uma das estratégias mais produtivas que existe é divulgar somente o que é bacana e positivo, pois dessa forma alavanca-se a imagem de uma organização, marca, produto ou serviço.

Porém, é vital que na construção de um relacionamento, sedimentado em transparência e confiança, as informações que não sejam tão edificantes assim, possam também ser alvos de comunicação, visando, até mesmo, estimular contribuições e colaborações que possam em um futuro próximo, alterar tais dados, transformando-os em base de reflexões e estudos criteriosos para uma possível alteração desse cenário.

Anualmente, a ICCA – International Congress and Convention Association – uma das mais ativas entidades mundiais relacionadas ao segmento de eventos realiza, com metodologia crível e auditada, um mapeamento anual dos países que mais sediam eventos internacionais.

O Brasil já teve lugar de destaque nesse ranking, figurando entre os top ten, na sétima colocação, em 2008. Antes disso, em 2003, o país ocupava a 19a. posição e por intermédio da estruturação de uma forte política de captação de eventos internacionais coordenada pela Embratur em parceria com os Convention Bureaux, órgãos de caráter público-privado que têm como objetivo promover seus destinos como sede de eventos, conseguiu fazer história.

Porém, infelizmente, nos últimos anos, temos perdido posições, a ponto de sequer ter estado presente entre os 20 países que mais sediam eventos, conforme o último ranqueamento divulgado em 2022.

Para ser bem precisa, com 101 eventos planejados, o Brasil encontra-se no 27o. lugar, atrás de países como a República Tcheca (23o.), Finlândia (22o.) e Grécia (17o.).

O resultado alcançado não é só fruto de uma pandemia avassaladora, já que ela não se restringiu somente à nossa nação, mas a falta de visão estratégica de continuidade de ações que estavam gerando resultados.

Enquanto países e seus principais destinos investem pesado em grandiosos, criativos e eficientes planos de relações públicas para promover e gerar presença na mídia e junto a formadores de opinião, o Brasil assiste a um verdadeiro retrocesso, iniciado, logo após o término da década de ouro, conhecida pelo período que a nação sediou megaeventos em seu território e que acabou não revertendo toda essa sua exibição mundial em resultados concretos.

Entender que esse segmento, sobretudo o nicho batizado de MICE – Meetings, Incentives, Congresses and Exhibitions – é um impulsionador de economias e a curto prazo consegue ampliar postos de trabalhos diretos e indiretos, que podem atingir até 52 setores dessa cadeia produtiva, deveria ser premissa vital de qualquer programa de governo dos candidatos que concorrem nas eleições majoritárias, tanto na esfera federal, quanto na estadual.

Mas isso parece ter passado desapercebido, ou até mesmo desprezado pelos candidatos na disputa. Provavelmente transparecendo que a sua própria comunicação é falha, pois sequer foram competentes para colocar no radar essa demanda, tão estimada e necessária nas ambiências sociais, técnicas e científicas.

Além de lamentar nossa posição tão abaixo de nossas potencialidades reais no segmento e da invisibilidade que o setor tem, precisamos falar sobre o assunto.

Não alardeando, não discutindo, não tornando público nossa derrocada nesse ranking só irá gerar ainda mais hiato e inércia.

Esse mercado não se recupera do dia para a noite, portanto, é preciso agir agora para termos alguma apuração relevante a médio prazo. E um comportamento low profile só nos ajudará, ainda mais, a conquistar mais quedas não só no ranking da ICCA, mas em outras estatísticas que também interferem na percepção e imagem de sucesso.

É preciso urgente acionar um SOS e iniciar um planejamento de relações públicas a fim de virar o jogo e ter uma performance de alto rendimento, caso contrário, nem no banco de reservas, em breve, estaremos.

Se descermos para o play, devemos estar preparados a não medir esforços para obter o rendimento que estamos aptos a fazer por merecer. E nesse caso, a união dos esforços institucional e mercadológico é composição que nasceu e cresce como sendo imbatível.

O esquema tático precisa ser revisto e novos membros acionados para entrar na partida, pois somente assim, não iremos correr o risco de sermos esquecidos ou preteridos por outros.

Afinal, quem não se comunica se trumbica e quem não é visto jamais será lembrado – pensamentos que há muito ouvimos por aí, e estão repletos de sabedoria.

Andrea Nakane é bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas. Possui especialização em Marketing (ESPM-Rio), em Educação do Ensino Superior (Universidade Anhembi-Morumbi), em Administração e Organização de Eventos (Senac-SP), e Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF). É mestre Hospitalidade pela Universidade Anhembi-Morumbi e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com tese focada no ambiente dos eventos de entretenimento ao vivo, construção e gestão de marcas. Registro profissional 3260 / Conrerp2 – São Paulo e Paraná.