Existe um tempo no vão entre os instantes que nos apavoram.
É neste fragmento de existência que as decisões são tomadas.
É neste pedaço de surpresa que habita o movimento vital das nossas horas, onde decidimos ficar ou partir.
Se partimos, seguimos em busca de um lugar onde caiba a nossa Alma dilatada e os músculos extenuados do nosso trabalho de parto individual.
Se ficamos, regressamos à escuridão uterina como que sentenciados ao exílio de nós mesmos.
É no hiato das nossas rotinas que o imponderável se manifesta, para nos cobrar o fôlego represado por tantas eras.
A surpresa nos conclama à plenitude da vida, a rasgar as vestes da covardia e a fazer da nudez da nossa Alma a proteção mais efetiva.
Existe um sopro de vida quando duas retinas se fotografam para depois revelarem, na alquimia dos seus porões, o destino já traçado.
No lampejo de uma vida inteira existe um pequeno espaço onde a eternidade se manifesta, para mostrar que futuro é mais do que aquilo que o presente assiste pela fresta.
–
Mariana Vieira é escritora, letrista e advogada. Autora dos livros “Sinto muito, eu te amo (poética dos afetos)”, “Poética dos Absurdos” e “Entre”.