O tribunal da internet - a opinião pública digital. Por Ilka Carrera.

A opinião pública é um fenômeno social complexo. Como auferir com precisão o modo de pensar de uma sociedade ou um grupo social relevante? Quanto mais amplo o recorte, mais difícil de precisar uma tendência ou diagnóstico. Assim, a opinião pública é objeto de estudo e trabalho das Relações Públicas e fundamental para celebridades, organizações e políticos.

Já dizia Abraham Lincoln, ‘Ninguém consegue triunfar se a opinião pública está em seu desfavor. Com a opinião pública a seu lado, ninguém é derrotado’. O cerne da questão é justamente o processo para ficar ao lado da opinião pública, sonho de qualquer pessoa pública.

Eu costumava dizer que a opinião pública não necessariamente está no ciberespaço, mas sim é influenciada pelas repercussões, principalmente nas redes sociais digitais. Todavia, com a expansão e crescimento exponencial das redes e a presença cada vez maior de usuários, pode-se afirmar com base na Lei de Metcalfe que hoje o fenômeno de formação pública da opinião acontece na internet. Segundo Metcalfe, o valor de um sistema de comunicação cresce na razão do quadrado do número de usuários do sistema, ou seja, quanto mais usuários maior a força do efeito de rede.

A opinião pública, vulgo ‘tribunal da internet’, não perdoa. Já diziam os romanos: vox populi, vox dei. Não sei se a voz do povo é a voz de Deus, porém tenho certeza que causa grandes estragos as reputações de pessoas públicas e desconhecidos, principalmente na web porque a velocidade de propagação dos julgamentos e sentenças é célere.

Gerir a relação de pessoas públicas e organizações com a opinião pública sempre foi uma tarefa hercúlea, mas na Era Digital está mais complicado. Os julgamentos virtuais são rápidos e muitas vezes opróbrios. O novo formador de opinião, aquele que influencia as pessoas e consequentemente o grupo, é o influenciador digital. Observe que outrora seriam necessários os meios de comunicação de massa tradicionais, porém agora os influenciadores estão aqui no ciberespaço. Digo ‘aqui’ porque esta é uma coluna para um portal na internet, claro.

Torna-se condição sine qua non entender os influenciadores digitais, pois eles conduzem os juízos e manejam o tribunal da internet. As duas características mais importantes da opinião pública são a mutabilidade e a falta de racionalidade. Portanto, o tribunal da internet é volúvel e passional. Como é fácil, às vezes, promover uma campanha de ‘cancelamento’ e mobilizar o tribunal da internet, não é? Quem já sentiu a sanha das pedras virtuais, sabe que a dor de ser execrado e/ou cancelado não é passageira.

Cabe salientar que, por outro lado, apesar de alguns julgamentos precipitados ou sem sustentação, há uma cobrança também no que tange vigiar a conduta e o discurso das organizações. Neste sentido, como no processo de juízo da opinião pública, há uma vigilância a favor dos anseios da sociedade ou um grupo social relevante. Por isso, a opinião pública é um fenômeno social imprescindível nas democracias.

Outro aspecto que considero positivo é o acesso ao debate, fundamental para formação da opinião pública. Na web, podemos acompanhar o processo e as discussões no bojo das expressões públicas da opinião, assim como é possível assistir alguns combates interessantes entre o tribunal da internet e os defensores do réu. Além de ser benéfico para estudos, trata-se de uma grande vantagem para gestores e profissionais de comunicação.

Como sempre afirmo, na corte da opinião pública, o(a) relações-públicas é o(a) advogado(a) de defesa e, assim, também é no tribunal virtual. É preciso agir rápido, mobilizar stakeholders e se comunicar em tempo real para defender as reputações.

Aos profissionais de comunicação, juízes e cancelados, calma! Tenho que finalizar com uma admoestação, como bem disse Maquiavel: ‘A natureza dos povos é variável e, se é fácil persuadi-los de uma coisa, é difícil firmá-los naquela convicção’.

Ilustração: charge do cartunista Hector Salas.

Ilka Carrera é relações-públicas, mercadóloga e professora. Mestre em Administração, especialista em Marketing e graduada em Comunicação. Atua nas áreas de comunicação e marketing há 20 anos. Realiza consultorias em gestão de crises, comunicação e marketing há dez anos. Docente desde 2004 nas principais instituições de ensino superior. Administra recém-lançada página no Facebook e Instagram (@crisesecrises).