O que há por trás de um líder? Por Ilka Carrera.

O trabalho em equipe é fundamental em qualquer gestão e a história está repleta de assessores famosos de grandes líderes em diversas épocas e situações. Sim, um líder empresarial ou aquele que se propõe a cuidar da coisa pública não consegue nada sozinho, pois o êxito ou fracasso é resultado de um trabalho em grupo.

Destarte, para além de um trabalho em equipe na administração de uma empresa ou nação, todo aquele que ocupa o cargo principal precisa estar cercado de pessoas que contribuam com a sua gestão e o assessorem no que tange a tomada de decisão. Dizem que uma característica importante de um grande líder é saber ouvir e escolher a melhor estratégia, assim como líderes que não gostam de ser contrariados geralmente ficam nus, como na fábula em que o rei é enganado por um alfaiate charlatão e ninguém tem coragem de lhe contar que está sem roupa.

Os livros estão cheios de histórias de líderes que se perderam por não ouvir seus asseclas e o povo, mas também caíram em desgraça por conta de maus conselhos e péssimas ideias. Todo faraó tem seu séquito. Todo rei tem seus conselheiros e bobos da corte. Todo sultão tem seu vizir. Todo presidente tem seus ministros e assessores.

O que seria de Otávio sem Mecenas, Júlio Cesar sem Marco Antônio e Alexandre Magno sem o mestre Aristóteles e o suporte de Heféstion? Nicolau sem Alexandra e Rasputin? Getúlio sem Gregório Fortunato? Hitler sem Hess e Goebbels? Napoleão sem o Marechal Ney?

Há casos em que líderes atribuem aos assessores poderes maiores de decisão, pois estes exercem grande influência sobre seu chefe (a famosa “eminência parda”), que acontece justamente quando um conselheiro ou braço direito manda de fato, embora não ocupe oficialmente o cargo. O termo surgiu na França e conta-se que o famoso Cardeal Richelieu teria o assessoramento do frade François Leclerc – que usava vestes bege. Leclerc teria considerável domínio em suas decisões e era chamado de “eminência” por todos sem ter o título de cardeal. Por isso, a alcunha de “eminência parda”. Por outro lado, Richelieu teve pujante poder durante o reinado de Luis XIII, era considerado seu mentor, e alguns historiadores afirmam que o cardeal governava a França, de fato. Sendo assim, a gestão francesa era feita por Luis XIII, o cardeal e o frade.

A questão do poder e da influência perpassam e ao mesmo tempo sobrepõem-se ao fato de que o sucesso do trabalho em equipe e, principalmente, a relação entre o assessor e o assessorado, é regida por questões ideológicas e filosóficas. Observa-se que Aristóteles não combinaria com Hitler, bem como Rasputin não teria sinergia com Napoleão. Alexandre amava a filosofia por causa de Aristóteles ou ele foi escolhido para ser seu professor porque havia respeito à Filosofia?

O gabinete paralelo de qualquer governo coaduna com as ideias do seu líder. Se o assessor do presidente acredita que a Terra é plana, não espere que o governo respeite a ciência, pois será guiado pelo negacionismo e pela “achologia”. O problema da achologia é que é demasiadamente inexata, de modo que se acredita sempre naquilo que convém e não na comprovação.

Conclui-se que, no final das contas, todo líder tem os seguidores que merece. De acordo com o provérbio árabe, um exército de ovelhas liderado por um leão derrotaria um exército de leões liderado por uma ovelha.

Ilka Carrera é relações-públicas, mercadóloga e professora. Mestre em Administração, especialista em marketing e gestão de crises. Consultora em gestão de crises, comunicação e marketing. Administra a página no Facebook e Instagram (@crisesecrises).