O público-leitor que (não) lê. Por Nayara Brito.

Confesso que ouvir essa afirmação era a morte p’ra mim. Para quê adiantava o meu emprego de analista de comunicação interna, se ninguém lia o que eu escrevia? Não liam as revistas, os murais, os comunicados, os avisos, os folhetos e os conteúdos da intranet. A maioria dos colaboradores não lia os conteúdos frequentemente e qualquer estratégia de comunicação que exigisse a leitura por parte deles, a preocupação era sempre em torno do “será que vão ler isso?”.

O fato é que, para quem trabalha com escrita e com conteúdo, é doloroso – e muito desconfortável – ouvir que as pessoas não se interessam pelo que você produz, seja em qual área for. No entanto, é preciso ter em mente que estamos vivendo uma grande crise de atenção, a qual fez com que nós, profissionais da escrita, desenvolvêssemos novas formas de capturar a atenção de nossos públicos, frente a tantos estímulos aos quais estão expostos. A agilidade no ‘escaneamento’ e na absorção de informações também fez com que repensássemos em fatores cruciais na criação de um conteúdo, como a quantidade e a utilidade, por exemplo.

Por isso, mais do que escrever um bom texto, precisamos entregar uma boa leitura a ser ‘experenciada’ e um conteúdo que seja verdadeiramente útil e usual. E isso requer um bom entendimento de quem são nossos públicos-leitores, seus comportamentos e o que querem consumir de nós. Sim, devemos encarar nossos conteúdos como produtos a serem consumidos e assumirmos a nossa posição como ‘designers de palavras’, principalmente no cenário digital e tecnológico em que vivemos (alô, UX!).

Precisamos unir em nossas estratégias de comunicação textual, necessidade e experiência, objetivo e desejo. Entregar o que querem e precisam receber, e conquistar aquilo que nos custa atrair: a atenção disputada de um público muito estimulado. A verdade é que, lendo muito ou pouco, tudo ou nada, o universo comunicacional feito só por ícones e imagens, apesar de ser intensamente mais visual e atrativo, não é completo sem a arte de palavrear. Então, ‘bora continuar a escrever, porque o público continuará – e precisará – seguir lendo.

Nayara Brito é relações-públicas e dedica suas escritas a temas que geralmente causam inquietações e questionamentos em sua mente. Sempre pautada em assuntos que se originam da comunicação como um todo, procura transmitir um pouco de suas reflexões, experiências e estudos por meio de seus conteúdos. Acompanhe seu trabalho também em https://www.linkedin.com/in/nayarabrito/.