O fim do Centro de Cultura e Tecnologia de McLuhan e seu legado no campo da Comunicação. Por Ana Paula Dias.

Herbert Marshall McLuhan é um nome conhecido para profissionais de diferentes áreas da Comunicação, graças às contribuições que o autor trouxe para as Ciências da Comunicação.

Nascido em 21 de julho de 1911, na cidade de Toronto, Canadá, McLuhan iniciou sua formação no curso superior de Engenharia, mas formou-se em Artes pela Universidade de Manitoba. No ano seguinte, entrou para o programa de mestrado em Literatura Inglesa, na Universidade de Cambridge. Logo após finalizar o curso, passou a trabalhar como professor-assistente na Universidade de Wisconsin-Madison. A experiência proporcionada pelo contato com jovens de uma cultura diferente estimulou nele a necessidade de compreendê-la, despertando seu interesse pelo trabalho teórico.

Ao longo de sua carreira, McLuhan fez pesquisas na área da Comunicação e deu aulas em diversas universidades. Enquanto trabalhava na Universidade de Toronto, nos anos 1950, McLuhan começou os seminários sobre Comunicação e Cultura. Com o passar do tempo, seu nome passou a ser identificado com o novo campo dos Estudos de Mídia. Uma das ideias mais populares de McLuhan é a de que “o meio é a mensagem”. Para o teórico, o centro da discussão no campo da comunicação estava na importância e na influência do veículo na formatação dos conteúdos. Ou seja, uma mesma mensagem veiculada pela televisão e pela rádio teria formatos, características e possibilidades de interpretação totalmente diferentes, devido à estética de cada meio. Além disso, McLuhan entendia os meios de comunicação como uma extensão do corpo humano, formando mensagens. Na época, os estudos eram voltados para a televisão, veículo que estava em plena ascensão. Nesse sentido, as obras de McLuhan apontavam que a TV não gerava efeito ideológico nas pessoas, mas na interferência que os conteúdos causavam nas sensações humanas. Dessa forma, de acordo com os estudos de McLuhan, os meios de comunicação modernos aprimoraram o corpo humano e suas habilidades.

Outro termo formulado pelo autor que tornou-se bastante conhecido foi “aldeia global”, o que significa, a grosso modo, que os meios de comunicação fariam com que o mundo se tornasse uma grande aldeia, quebrando fronteiras geográficas, culturais, sociais e de outros tipos. Seus trabalhos previam os fenômenos sociais e filosóficos gerados pelos computadores e pelas telecomunicações antes mesmo de a internet ser inventada. Por esta razão, as ideias de McLuhan foram tidas como visionárias por muitos, ainda que ele sofresse algumas críticas.

Com o crescimento da sua reputação e o aumento no número de ofertas de outras universidades, a Universidade de Toronto criou o Centre for Culture and Technology (Centro de Cultura e Tecnologia) em 1963, como forma de mantê-lo em seus quadros. O objetivo do Centro de Cultura e Tecnologia, conforme inicialmente imaginado por Marshall McLuhan, era “avançar a compreensão das origens e efeitos da tecnologia”. Um dos objetivos específicos era “organizar um seminário interdisciplinar para funcionários e alunos de pós-graduação e conceber novos procedimentos experimentais para identificar as consequências psíquicas e sociais da mudança tecnológica”. Nos 12 anos seguintes, o Centro foi um espaço próspero de exploração, inovação e produção acadêmica. Entretanto, na época, houve períodos em que a Universidade de Toronto quis fechar o seu centro de pesquisas por conta do seu afastamento para tratar de um problema de saúde. Diversos intelectuais repudiaram essa atitude, realizando protestos que fizeram com que a instituição voltasse atrás. Entre os protestantes mais célebres estava o cineasta Woody Allen.

Após a morte de Marshall McLuhan em 1980, o Centro encontrou vida continuada com o Programa McLuhan para Cultura e Tecnologia, cujo principal objetivo era patrocinar palestras e pesquisas sobre o trabalho de Marshall McLuhan e atividades relacionadas. Em 2016, o Centro foi renomeado mais uma vez em homenagem a McLuhan como Centro McLuhan de Cultura e Tecnologia. No entanto, a programação desde a renomeação em 2016 não foi centrada em McLuhan. Frente a essas questões, os herdeiros do Centro decidiram rescindir a permissão para o uso do nome McLuhan. O processo, iniciado em maio de 2022, será concluído neste mês de março, segundo a atual reitora, Wendy Duff.

O fim do Centro foi anunciado em fevereiro de 2023, significando uma grande perda para muitos ex-alunos, colaboradores e admiradores das realizações de McLuhan nos novos campos da ecologia da mídia, alfabetização da mídia, entre outros. Embora haja críticas acerca de um determinismo tecnológico em seu pensamento, o legado de Mcluhan deixou importantes contribuições para o avanço da Ciência da Comunicação.

Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento do autor, algumas obras importantes podem ser consultadas, como A galáxia de Gutemberg; O meio é a mensagem e Os meios de comunicação como extensão do homem.

Ana Paula Dias é bacharela em Relações Públicas pela Universidade de São Paulo, com MBA em Reinvenção Digital pela ESPM. Atualmente, é mestranda em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo e membro do Comitê Jovem da UNESCO MIL Alliance.
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