NOVA COLUNISTA: Simone Carvalho - E quando te perguntam se você gostaria de trabalhar com comunicação governamental?

Depois de muita reflexão, começo hoje minha coluna mensal no portal O.C.I. E foram reflexões variadas: eu teria tempo para assumir mais um compromisso? Qual tema deveria abordar? Qual deveria ser a linguagem utilizada? Quem teria interesse em ler sobre a minha experiência?

Optei por trazer questões que estão no meu cotidiano profissional, pois atuo no setor público, mais especificamente na comunicação de uma área do governo com os cidadãos, o que é pouco debatido na graduação em RP. E essa opção veio de um questionamento que eu sempre faço em sala de aula: – Alguém aqui gostaria de atuar no setor público/governamental?

Poucas ou nenhuma mão se ergue – inclusive, recentemente, eu publiquei uma vaga de estágio em uma prefeitura no grupo de alunos e… não tive nenhum interessado, o que reforça a percepção que eu já tinha.

E o que faz com que os alunos não demonstrem interesse pela área governamental? Certamente há uma grande influência dos desmandos e escândalos que presenciamos diuturnamente, mas, e o sentimento de que apenas os cidadãos podem mudar situações como essa, onde está? Cadê a compreensão de que o papel da comunicação é fundamental para o exercício da cidadania? Muitas vezes vemos os estudantes discutindo assuntos de interesse público com muita energia, mas na hora de procurar um emprego, por que essa área não atrai os jovens?

A pesquisa Edelman Trust Barometer 2022 apresenta números assustadores da forte imagem negativa que temos de instituições públicas, em que as pessoas não acreditam que o governo possa resolver os problemas da população, que falha em cuidar de situações críticas como a pandemia e as questões ambientais, além do governo ser visto como um elemento desagregador da sociedade. Realmente, não é muito atrativo trabalhar em uma instituição com essa imagem, mas o governo é mais do que um governante, e nosso papel, como cidadãos, é buscar melhorias nos setores públicos.

Obviamente essa desconfiança, essa imagem dos governantes, reflete na falta de interesse em trabalhar na área. Mas temos que entender que os órgãos públicos, que prestam serviços a todas as pessoas, independem dos governantes do momento. Como diz o ditado, “temos que separar o joio do trigo”, ou seja, temos que compreender que os governantes, alguns melhores, outros piores, deixam o cargo após findo o seu mandato; mas as instituições públicas continuam com sua atuação, às vezes com mais ou menos investimentos, recursos humanos e capacidade tecnológica, sempre tendo em mente que o cidadão é o seu principal stakeholder, por ser ele público-alvo dos serviços ao mesmo tempo em que é o seu financiador, ainda que indiretamente.

Eu atuo desde 2011 no setor público, inicialmente como ouvidora em hospital público. Hoje, atuo como coordenadora em uma instituição de ensino superior. Saúde e educação são dois setores que estão na nossa Constituição Federal como básicos para a população, que devem ser oferecidos gratuitamente e com qualidade para todos – e sem a comunicação efetiva desses serviços, como a população vai conhecer seu direito a eles?

A comunicação governamental tem como seu principal interlocutor o cidadão, a pessoa que vai usufruir desses dos previstos na CF 1988, e faz parte das atribuições fazer com que esse cidadão tenha um olhar mais crítico e exigente dos serviços oferecidos.

A pesquisa citada anteriormente também revela que houve um aumento na confiança depositada em cientistas e autoridades sanitárias, que são fontes de informação privilegiadas das duas áreas que eu pretendo abordar nesta coluna; Saúde e Educação, ou seja, fazer com que essas pessoas se comuniquem com a sociedade é papel da comunicação governamental e pode iniciar uma mudança na aversão identificada.

Bom, se você chegou até aqui, imagino que tenha interesse em atuar na área de relações governamentais – ou pelo menos de saber um pouco mais sobre. Nas próximas colunas, tratarei mais objetivamente sobre minha experiência profissional com relações governamentais nas áreas de Saúde e Educação superior. Me escreve falando sobre o que você gostaria de saber da área, me conta a sua experiência ou dúvidas e vamos desmistificar essas questões neste espaço.

Dica de leitura: a pesquisa Edelman Trust Barometer 2022 (disponível em https://www.edelman.com.br/sites/g/files/aatuss291/files/2022-03/2022%20Edelman%20Trust%20Barometer_Brazil%20Report_With%20Global_POR.pdf) é realizada há mais de 20 anos e estuda a confiança das pessoas nas instituições (empresas, marcas, governos, ONGs e mídia), sendo fundamental para a nossa área de Comunicação. Analisar essas pesquisas desde o início mostra também como as empresas, públicas ou privadas, vêm agindo ao longo do tempo e como o cidadão vem reagindo a estas atuações.

Simone Carvalho é relações-públicas, mestre e doutora em Ciências da Comunicação (ECA-USP), com MBA em Gestão Empresarial (FGV). É especialista em Inovação e Gestão em EAD (FEARP-USP) e atua na área pública desde 2011. Atualmente, trabalha com relações governamentais na Educação superior pública, além de ser docente universitária no complexo FMU/FIAM-FAAM. LinkedIn – https://www.linkedin.com/in/simonecarvalho/ | E-mail: profasimonealvesdecarvalho@gmail.com