NOVA COLUNISTA: Raíza Halfeld - Lembrar para legitimar: a memória organizacional na era digital.

Em tempos de informação instantânea e imediatismo, você deve estar se perguntando; qual o papel da memória na contemporaneidade? Mais ainda; como o passado pode ser utilizado em ambientes organizacionais? Pois, bem, para responder a essas perguntas é necessário retornar a história.

O desenvolvimento da internet, bem como das tecnologias digitais nas últimas décadas, provocaram mudanças significativas na sociedade. As barreiras geográficas foram rompidas e novas formas de comunicação surgiram. A informação passou a circular de forma mais rápida e intensa nas múltiplas plataformas midiáticas. Porém, toda essa aceleração tecnológica foi responsável, também, por instaurar um novo regime de temporalidade, caracterizado pelo presente contínuo (HARTOG, 2013). O mundo passou a ser regido por um tempo fluído, conectado, ininterrupto, no qual o imediatismo ganhou destaque. Diante desse contexto, nota-se que o passado passou a ser utilizado como objeto de referência.

Isso pode ser observado em diversos setores: social, econômico, político e cultural. A restauração de centros antigos, a criação de museus, de monumentos históricos, a volta da moda retrô, entre outros fatores; reforçam a ideia de que a contemporaneidade vive, de fato, um boom memorialístico (HUYSSEN, 2000).

No âmbito organizacional não é diferente. As empresas sempre se apoiaram nos seus valores e princípios para manter a coesão interna e criar uma identidade própria. No entanto, o que se observa é que tais iniciativas se intensificaram e passaram a ser utilizadas de forma estratégica a fim de alcançar o público externo. Se você parar para pensar, recentemente, quantas marcas fizeram relançamentos de produtos antigos, vintage, reedições de embalagens históricas ou celebraram datas especiais, do tipo cinquentenário ou centenário, a fim de reforçar uma tradição?

A nostalgia está sendo cada vez mais utilizada como trunfo pelas organizações que desejam legitimar e reforçar suas identidades frente a mundo caracterizado pela instabilidade do tempo e do espaço vivido. A quantidade de produtos que podem ser gerados a partir do passado é gigante! Seja para aumentar o engajamento interno, entre os colaboradores, ou para captar, reter e fidelizar clientes externos, o fato é que, hoje em dia, é preciso valorizar o que se faz e o que se vende. Não basta oferecer produtos vazios de significados. Sendo assim, investir na história seja da empresa, dos próprios colaboradores, ou do público em questão, é fundamental. Resgatar a memória significa resgatar o afeto, e isso é essencial para qualquer relação que se pretenda construir!

Você conhece alguma iniciativa de valorização da memória em ambientes organizacionais? Compartilhe com a gente!

Raíza Halfeld é jornalista e mestre em Competência Midiática, Estética e Temporalidade pela UFJF.