Escrever para um observatório reconhecido, que tem como aspiração organizações (e mundo) melhores é um desafio e, ao mesmo passo, daquelas coisas que acontecem na vida da gente sobre as quais só conseguimos definir com gratidão. Escrever para e por um observatório que tem como causas a transparência ativa, a comunicação pública, o jornalismo responsável, a propaganda com ética e a educomunicação para cidadania, é uma questão de crença na colaboração. Sempre acreditei, afinal, na máxima de pensar global e agir local. Sendo essas causas verdadeiros valores os quais prezo e/ou admiro, a sinergia surgiu como uma porta para aprender, crescer, trocar, e a responsabilidade, por sua vez, me é cara enquanto possibilidade para socializar digressões que, por certo período, ficaram guardadas ou foram tão somente abordadas junto aos meus pares.
Dito isso, o ponto seria a temática sobre a qual abordar de pronto, de estreia. Achei por bem me colocar no texto, relatar esse processo para que, junto a quem por aqui passasse, aqui prendesse sua atenção, caminhasse comigo em pontos que me despertam e mais que isso: que demandam nossa atuação. O momento atual da comunicação, tecnologia e humanidade, é fato, é marcado por uma profunda e complexa interdependência entre esses três elementos. Eu sei, vocês sabem (e sentem): a tecnologia tem se tornado cada vez mais presente na vida das pessoas (mesmo que dizer isso pareça redundância).
Não é exagero enfatizarmos ou lembrarmos que, desde a maneira como nos conectamos com outras pessoas e nos comunicamos entre nós, até a maneira como nos relacionamos com os meios de produção e a própria natureza, a tecnologia parece deixar de ser meio para ser fim. A nossa dependência, é bem verdade, tem trazido também algumas críticas sobre o impacto dela na sociedade. Uma delas tem a ver com o afastamento crescente entre as pessoas, que estão mais preocupadas em conectar-se com o mundo virtual do que com o mundo real. Já falamos, lemos ou ouvimos que isso pode levar ao isolamento e à falta de empatia entre nós, e que tudo isso pode ter efeitos negativos na vida social e nas relações humanas. De igual forma, temos escutado sobre uma potencial falta de controle sobre a tecnologia. Ela pode ser usada como ferramenta de manipulação e controle por parte de grandes corporações e governos. Existe a preocupação de limitar a liberdade e a autonomia das pessoas, existe o indicador de desigualdades sociais e econômicas quando o assunto é exclusão tecnológica e quando todos nossos preceitos e sonhos relativos àquela colaboração e democratização do conhecimento parecem se esvair por entre nossos dedos.
Mas como eu, comunicadora, com habilitação em Relações Públicas, mestre juntamente em Tecnologias Educacionais em Rede e estudante de doutorado, com foco em platafomização, poderia manifestar preocupação? Eu que sou defensora, que atuo com e trabalho por e pelo desenvolvimento de tecnologias. Fato é que nunca deixei de acreditar e de reverberar o contraponto e o ideal: tecnologia é meio e não fim (e não podemos esquecer ou nos desviar disso). Vivenciamos, talvez mais do que nunca, um momento para olhar e lançar mão da tecnologia de forma consciente e responsável, para que, como tanto já fez, ela possa gerar (ainda mais) benefícios para a sociedade e para a humanidade.
Sinto como se estivéssemos frente a uma linha tênue entre progresso infinito e retrocesso avassalador. É como se a escolha fosse nossa, só nossa, e como se tivéssemos de optar entre o bem e o mal. A decisão parece óbvia, mas é como se o mal aparecesse revestido de beleza, alta produtividade e lucratividade e deixasse o real sentido – e intenções – obscuros. O que me preocupa não são máquinas e sistemas, nem a inteligência artificial nesse contexto, mas pessoas desprovidas de amor. O ponto é que pessoas e organizações precisam olhar para a questão do privilégio que suas inovações podem acometer, verificar se aqueles que têm acesso a elas são tão somente aqueles que têm recursos financeiros. Adotar programas de responsabilidade social e de democratização de funcionalidades e produtos pode ser um passo importante na contribuição para o acesso. A educação online é um exemplo. Uma medida saudável e sustentável, talvez, é com um número “x” de cursos vendidos, outros tantos serem doados como incentivo à promoção do conhecimento, inserção e ascensão no mercado.
Pessoas e organizações precisam, ainda, atentar para a privacidade, pois a tecnologia tem se tornado cada vez mais capaz de acessar e armazenar informações pessoais e de monitorar as atividades dos usuários. Isso significa que a privacidade das pessoas está sendo cada vez mais exposta e vulnerável. Ações de prevenção e conscientização são cada vez mais necessárias quando se quer fazer uma comunicação estratégica, porém responsável, transparente e ética. Nós podemos e devemos escolher, afinal, o progresso infinito – e o caminho mais bonito, que é o desenvolvimento e a integridade, onde traçamos nossa jornada fazendo a coisa certa pelos motivos certos. Enquanto organizações, aliás, olhemos para a maior produtividade, mas para o benefício disso para os colaboradores terem mais tempo para viver e não só para operar. A tecnologia, é sabido, ajuda a automatizar processos, aumentando a eficiência e permitindo que o elemento humano se foque na estratégia. E, isso, creio, pode permitir que as empresas alcancem seus objetivos com mais rapidez e precisão também.
Quando a tecnologia e, por conseguinte, a transformação digital é pauta nas empresas, estamos falando de melhoria da comunicação também. A tecnologia possibilita que as pessoas se conectem de forma mais rápida e eficaz. Isso permite que as empresas comuniquem de forma mais clara e, em dando tudo certo, se gera o valor talvez mais cobiçado entre as grandes cabeças de organizações de todos portes e segmentos: a colaboração entre equipes. Ou seja, não estamos tão somente falando em riscos. Estamos falando em acesso à informação. A tecnologia, genuinamente, torna mais fácil acessar informações e, por óbvio, o conhecimento. Estamos falando de inovação. De empresas adotando e se adaptando às mudanças do mercado. Estamos falando de redução de custos. A tecnologia permite que as organizações reduzam seus custos de produção e operação. Isso ajuda as empresas a serem mais lucrativas e competitivas. É uma conclusão/decisão simples, básica e racional.
Mas, sobretudo, reforço, estamos falando de benefício para a humanidade. Vivemos para presenciar avanços em áreas como a da saúde, educação, transporte e comunicação. E merecemos outros tantos avanços. Merecemos melhora da qualidade de vida das pessoas, aumento no acesso a serviços e bens. Ocorre que não somos imunes aos impactos. E só saberemos enfrentá-los, assim como aos riscos, com algo que não podemos perder no caminho: nossa própria humanidade.
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Liana Merladete é relações-públicas, empreendedora na área de Educação & Comunicação e Entretenimento Geek. Professora universitária, MBA em Gestão de Negócios, mestre em Tecnologias Educacionais em Rede, doutoranda em Comunicação e tem formação em Empreendedorismo e Coaching de Carreira.