NO CORAÇÃO DA AMÉRICA DO SUL - Chuva cuiabana. Por Aclyse Mattos.

Chuva cuiabana

Casas antigas sem forro
Da Cuiabá que me lembro,
Quando o chuvoso dezembro
Punha pra dentro de casa
Pingos, gotinhas, goteiras

Casas sem eiras nem beiras
Com telhas velhas nas coxas
Pingos no chão de ladrilhos
Corre a pegar as gamelas
Para aparar os respingos

Sob esta chuva pacata
Essa goteira hipnótica
Cria uma cena hipotética:
A casa no meio da mata,
A mata no meio da casa

A lata no meio da sala
A sala suspensa no nada
O nada que alastra e alaga
Um ponto no meio do mapa
O mundo inteiro na lata

Sob essa chuva envolvente
Que a tudo abarca e comunga
Mamãe na sala resmunga:
“Essa goteira plangente
Chove no dentro da gente!”

Imagem: Uma sala cuiabana.

Aclyse Mattos é graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com especialização em Propaganda e Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – RJ, mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e doutorado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais. É escritor, poeta e professor da Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT.