Mediação entre robôs e humanos: a nova função das Relações Públicas. Por Ilka Carrera.

Penso que diante do atual estado da arte da Inteligência Artificial e evolução da robótica, a atividade voltada para mediação e gestão de conflitos terá um novo desafio. A profissão que tem a missão de salvaguardar a reputação e cuidar dos relacionamentos estratégicos terá uma nova missão. Se teremos que conviver com robôs, gerir as relações entre humanos e máquinas será fundamental. O RP será o grande protetor de John Connor? Calma! Mas alguém terá que cuidar da comunicação entre as máquinas e os humanos na organização e na sociedade. A gestão da relação entre as pessoas e os robôs será uma nova tarefa.

Acha exagero? Quando indagado sobre o futuro da I. A., em seu último livro, Stephen Hawking, com base na Lei de Moore, explicou que estamos sim muito perto do advento de supercomputadores. Aliás, por falar na Lei de Moore, todo mundo resolveu citar o fundador da Intel.

Nos últimos tempos, li vários livros com temáticas diferentes que citaram Gordon Moore, trazendo sua máxima como axioma.

Segundo a Lei de Moore, a cada 18 meses a capacidade de memória e a velocidade dos computadores dobra e o tamanho dos processadores diminui. O primeiro computador foi inventado em 1946 e chamava-se ENIAC (eletronic numerical integrator and computer), ocupava uma sala inteira de 10 X 15 metros. O ENIAC pesava cerca de 30 toneladas, o equivalente a 30.000 Kg.

Mas você pensa: falta muito! As máquinas não pensam… Pensam sim! Torna-se imperioso repensar nossa formação e educação. É condição imprescindível incentivar a crítica e aprender a interpretar, pois não existe crítica sem interpretação e construção de um pensamento acerca do tema. A única habilidade que a máquina não tem e dificilmente terá é o pensamento crítico.

Você já se deu conta de que quase tudo que já foi sonhado como ficção tecnológica tem se tornado realidade? Carros que se dirigem sozinhos, robôs que falam (ALICE), máquinas que respondem tudo (Google), hologramas como em Star Wars, ALEXA – que é uma super-assistente, dentre outros. Andróides, que são robôs com a aparência humana, como a Sophia e a Erica, que falam e expressam sentimentos.

Vamos lá: qual o estado da arte? A internet das coisas (IoT) permite que dados sejam capturados facilmente e, claro, as informações que trocamos na web também serão processadas e cruzadas entre si e com os dados captados com a internet das coisas. Um computador vai armazenar e organizar os dados. A I. A. é capaz de transformar os dados em informações. O Learning Machine consegue transformar informação em conhecimento. E o Deep Learning – ou aprendizagem profunda – pode interpretar e criar a partir do conhecimento e cruzamento de informações que transformam o aprendizado da máquina.

Stephen Hawking admoestou que é preciso alinhar os objetivos das máquinas com os nossos objetivos, pois caso contrário, teremos problemas. Alinhar objetivos dentro da organização não é tão simples e muito menos alinhar as metas e expectativas da organização com os seus públicos. Agora precisamos pensar em cuidar do propósito comum entre as organizações e as máquinas e, quiçá, entre robôs e/ou andróides e humanos.

Você está dizendo que gestão precisa coadunar suas estratégias com os robôs? Sim! Todas as áreas precisam alinhar suas metas e táticas ao planejamento estratégico. Quantas empresas conseguem? Pois é… Agora as pessoas, as áreas e os programadores terão que estar bem alinhados.

E os ciborgues? São seres híbridos entre humanos e máquinas, ou seja, humanos com partes de robôs. A evolução de próteses e implantes nos últimos anos deu um salto incomensurável. Agora eu exagerei? Neil Harbisson, artista plástico, é reconhecido como o primeiro ciborgue do mundo. Ele nasceu com acromatopsia, uma condição que só lhe permite ver em preto e branco. Pesquise na web e verá. Achou? A foto de um cara com cabelo de Beatle e uma antena na cabeça. Neil conectou ao cérebro uma antena capaz de identificar a frequência, a vibração das cores, e mandar a informação para um chip que fica na sua nuca e emite sons. Deste modo, ele passou a ver as cores. A antena é chamada de eyeborg e ele é cofundador de um projeto que incentiva o ciborguismo.

Segundo Kevin Kelly, a convivência com robôs é inevitável. Para ele, no futuro, os profissionais mais bem pagos serão aqueles que trabalham melhor com robôs. Nas minhas leituras encontrei achados interessantes sobre: I. A., chat bots, big data e deep learning. Como por exemplo o aumento de 50 vezes no avanço do Deep Learning em 50 anos.

Destarte, já estamos convivendo com chatbots e I. A., então penso que em um futuro breve devemos projetar é o advento dos supercomputadores e a inteligência artificial realmente surpreendente. Portanto, sim, logrará maior êxito quem conviver melhor com robôs!

As Relações Públicas terão uma nova e fascinante missão: mediar as relações entre humanos, robôs, ciborgues e andróides. A comunicação interna deverá ter novas perspectivas e técnicas. No escopo da comunicação estratégica, alinhar as diretrizes organizacionais à conduta dos programadores e dos supercomputadores será fundamental. Sempre ouvi a máxima: o relações-públicas tem que gostar de gente… agora teremos que curtir também máquinas.

Ilka Carrera é relações-públicas, mercadóloga e professora. Mestre em Administração, especialista em Marketing e gestão de crises. Faz consultorias, treinamentos e administra a página no Facebook e Instagram (@crisesecrises).