#Me too - Time's up! Por Júnia Braga.

Caso Weinstein: como a mobilização da opinião pública derrubou a reputação de um dos maiores líderes da indústria cinematográfica e colocou em xeque marcas relacionadas a ele

No mês de março, ‘mês da mulher’, uma reflexão sobre como a equidade de gênero tem ganhado espaço, com muito esforço, na opinião pública, e suas consequências – principalmente nas relações de poder no mercado de trabalho – abalando reputações pessoais e corporativas.

Em um tribunal em Nova York, em fevereiro de 2020, Harvey Weinstein – considerado, até meados de 2016, um dos nomes mais importantes da indústria cinematográfica do globo por ter cofundado a Miramax e, posteriormente, a The Weinstein Company (TWC) – foi condenado por estupro em terceiro grau e por ato sexual criminoso em terceiro grau, podendo pegar até 25 anos de prisão. Em março, agora – ‘nosso mês’ – a sentença saiu: 23 anos de reclusão.

O acontecimento está sendo considerado por especialistas em Direito e Mídia como algo essencial no movimento #MeToo, o levante global contra o assédio às mulheres que se tornou viral, finalmente, graças às acusações contra Weinstein, que vieram à tona em 2017, com a publicação de reportagens sobre o tema no ‘The New York Times’ e na ‘The New Yorker’.

A primeira vez que o #MeToo apareceu nas redes sociais foi em 2006, pelas mãos da sobrevivente e ativista norte-americana Tarana Burke. Ou seja, foram necessários dez anos de movimento para que grandes atores sociais da opinião pública se mobilizassem a ponto de movimentar o establishment. E isso só aconteceu depois de um esforço muito grande por parte das mulheres – que não desistiram de denunciar, apesar de muitas derrotas anteriores contra Weinstein; a imprensa, que trouxe o tema à sociedade; as associações e entidades apoiadoras; e todo ator social que se envolveram, de alguma forma, com a causa.

Como consequência do ‘escândalo Weinstein’, ele foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos e da própria empresa TWC – que declarou falência no ano passado (afinal, que marca com o nome ‘Weinstein’ sobreviveria?). Além disso, Georgina Chapman, sua segunda esposa e designer da grife Marchesa, divorciou-se dele. Aliás, a Marchesa era uma das queridinhas das estrelas de Hollywood nos tapetes vermelhos e, naturalmente, sumiu da ‘preferência’ das atrizes.

Não obstante seu grande poder de influência nas altas esferas (afinal, Weinstein era considerado um ‘fazedor de carreiras’ pela quantidade de Oscars que os filmes por trás de suas mãos ganharam), Weinstein caiu. Mas para que se entenda o tamanho da queda de Weinstein, é preciso entender a relevância de sua figura na indústria. Em 1979, ele e seu irmão, Bob Weinstein, fundaram a Miramax, produtora e distribuidora de filmes como The English Patient (1996), Shakespeare Apaixonado (1999) e Chicago (2002), todos vencedores do Oscar melhor filme do ano. Em 1993, a produtora foi vendida para a Disney, e os irmãos deixaram a empresa em 2005 para fundar a hoje já falida TWC. Ao todo, sua carreira acabou com mais de 80 estatuetas e cerca de 350 indicações ao prêmio.

A era da reputação e como ‘a opinião das opiniões’ muda os rumos da história

A pesquisadora e escritora Gloria Origgi definiu que estamos em transição da ‘era da informação’ para a ‘era da reputação’. Em tempos de fake news, o peso que as informações trazidas por órgãos com credibilidade, ou seja, já chancelados pela sociedade, é maior.

Nesse sentido, compreende-se porque o #MeToo só ganhou proporções o suficiente para derrubar Weinstein com o endosso de grandes veículos de comunicação.

Como dito anteriormente, apesar de a hashtag ter sido utilizada pela primeira vez em 2006; e apesar de Harvey Weinstein já ter conseguido se safar de outras acusações anteriormente, o que mudou? A imprensa virou o jogo. Uma grande investigação sobre o comportamento de Weinstein, então publicada no jornal ‘The New York Times’ em 5 de outubro de 2017, junto a outra reportagem – na revista “The New Yorker” –, foram o estopim do que, eventualmente, acabou com sua carreira, seu casamento, sua reputação, sua empresa, e afetou as marcas relacionadas a ele – como a grife Marchesa.

As reportagens, que inclusive foram premiadas com o Pulitzer, e que trouxeram à luz as décadas de assédio sexual e acusações de agressão contra ele, fizeram Weinstein tornar-se um ser tóxico. Tudo e qualquer marca com associação a ele seria agora vista com descrédito. O silêncio foi quebrado e, com ele, toda a confiança que seu nome, até então celebrado na indústria, trazia.

É muito improvável que Weinstein volte ao topo. Isso de acordo mesmo com os especialistas, ou seja, as pessoas cujo trabalho é, justamente, resgatar a reputação dos ‘aparentemente irrecuperáveis’.

‘Sua reputação nunca se recuperará’, vaticina Shannon Wilkinson, consultora de gerenciamento de reputação baseada em Nova York.

E, com a reputação irrecuperável de Weinstein, entendemos a importância que isso tem para a história – e como se reflete em um avanço para os esforços de quem batalha pela equidade de gêneros em todo o mundo. Afinal, reputação é, e sempre foi, questão de opinião pública.

Júnia Braga é jornalista especializada em gestão de comunicação e marketing. CEO & Founder da JB Press House, agência de Relações Públicas focada em serviços de gestão de reputação para organizações nacionais e internacionais, principalmente no que tange a relações com a imprensa.